24.4.09

Um presente



Foi na última cúpula das Américas que Hugo Chavez presenteou Obama com o livro "As Veias Abertas da America Latina", do uruguaio Eduardo Galeano. O gesto catapultou imediatamente a obra para a lista de 20 mais vendidos da Amazon, o que deve ser interpretado como bom sinal: mais pessoas de língua inglesa tentarão compreender nossa América Latina (e a reboque os próprios EUA).

Dar livros de presente é sempre um gesto bem intencionado. Ponto para o venezuelano. E sorte para o Galeano.

Na verdade estou aqui para recomendar um outro livro, chamado "Livro dos Abraços". Encontrou-me numa lojinha no aeroporto em São Paulo junto com o Mercador de Veneza de Shakespeare. Entreguei-me à leitura deste último e guardei o Galeano para um pouco mais tarde.

"O livro dos Abraços" foi uma das minhas mais prazeirosas leituras recentes. Li-o a contagotas ao longo de várias manhãs, enquanto aguardava meu filho aprender a dar suas braçadas na aula de natação. Cada página traz contos e causos curtos, concisos, emotivos, mágicos até. As ilustrações em colagem são todas do próprio Galeano.

Começa com este:

"Um homem de uma aldeia Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus.
Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.
- O mundo é isso - revelou, - Um montão de gente, um mar de fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com uma luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas.
Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo."

(Me pergunto, que tipo de fogueirinha seria eu?)

Finalmente, o livro fecha sua última página com "A Ventania":

"Assovia o vento dentro de mim. Estou despido. Dono de nada, dono de ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas, sou minha cara contra o vento, a contravento, e sou o vento que bate em minha cara.

(É justamente assim que me sinto ultimamente: mais vento do que fogueirinha)

3 comentários:

Cintia de Sá disse...

Esse post me fez lembrar de duas músicas, uma do Paulinho Moska que eu amo, mas me incomoda com a frase "sou um móbile solto num furacão"... a outra é The Blower's Daughter do Damien Rice.

Bons ventos pra vocês!

Cintia de Sá disse...

AH! hoje recebi um post que talvez você goste também. É sobre o Bill Watterson e tem um texto dele, falando sobre o trabalho com o Calvin, que achei lindo. Confira:

http://depositodocalvin.blogspot.com/2009/04/biografia-de-bill-watterson.html

Luis Saguar disse...

Hummm... bom isso tudo, hein Alarca!
Vou procurar esse livro, ver se me acho...
;o)

abraços pra ti!

Saguar