11.4.09

Aproveitando que a India está na moda...



A India está na moda e parece que foi por causa de uma novela.

Como aqui em casa ninguém assiste TV, não saberia dizer quão acurada é essa Índia da Globo. Conhecer uma cultura tão complexa através de uma versão tupininiquim-folhetinesca é certeza de equívoco.

Acho que nem os filmes de Bollywood (a indústria cinematográfica da terra de Shiva) devem ser confiáveis, e não me animei nem mesmo a ver o tal filme indiano que levou 8 oscar este ano. Neste fui influenciado pela declaração do Salman Rushdie de que era uma besteira. De vez em quando filmes servem apenas de companhia para um balde de pipocas.

Cresci lendo a National Geographic, e aprendi desde cedo a acompanhar com atenção as histórias contadas por gente que conviveu de perto com o seu tema, respirou o mesmo ar e pisou no mesmo chão dos personagens que retratou. Esse olhar etnográfico, sociológico, continua sendo o que mais me atrai quando escolho um documentário pra assistir.

Por isso aproveito a emergência do tema, e deixo aqui minha dica cinematográfica: Nascidos em Bordéis.

A sinopse no blog Cinerama diz o seguinte:

"Em 1997, a fotógrafa de origem britânica Zana Briski aventurou-se no bairro Sonagachi de Calcutá, conhecido pela sua prostituição. O seu objectivo era conhecer algumas das mulheres que aí trabalhavam e fotografá-las. No entanto, deu-se conta de que sendo uma estranha nunca conseguiria o seu propósito. Por isso, decidiu mudar-se para lá.

Como inesperada consequência, Briski acabou por formar fortes laços com as crianças do bairro, muitas delas não desejadas ou amadas. Na tentativa de as salvar da sua própria vida, a Tia Zana, como lhe chamam, decidiu ensinar-lhes fotografia e, entre a pobreza e o trabalho das suas mães (e, para as meninas, a inevitabilidade de um mesmo futuro), as crianças responderam de uma forma voraz e, em alguns casos, esta experiência mudou radicalmente as suas vidas.
Treinando a sua visão através da lente da câmara, as crianças aprenderam a ver o seu mundo de forma diferente e a sonhar com outras possibilidades".

Nascidos em Bordéis é um testemunho do poder transformador da arte.

Com a repercussao do filme, Zana Briski fundou uma ONG cuja missão é ensinar fotografia para crianças marginalizadas pelo mundo afora, como uma forma de estimular sua imaginação, aumentar sua auto-estima e, finalmente criar meios para que elas possam romper com os círculos viciosos de miséria que limitam suas vidas.

No site da Kids with Cameras vocês podem ver as fotografias destas talentosas crianças.

5 comentários:

Mauricio Negro disse...

Fala, Alarcão. Pois é, assiti recentemente ao tal filme de 8 oscars. E estou lendo "Os filhos da meia-noite", do Salman Rushdie, por coincidência. E nem sabia da opinião dele sobre a película. Faz sentido, desce fácil e cumpre o figurino da indústria cultural. Mas não é tão ruim como eu esperava, porém. Ontem, assisti o chileno Tony Manero. Premiado em vários festivais, o filme pretende ser a antítese do anterior. No entanto, é irritante, preguiçoso e pretensioso. Contrastes bizarros esses!

E parabéns pelo novo peixinho!

Unknown disse...

Nascidos em bordéis é comovente. É sempre triste ver que talento, doçura e beleza também nascem nos lugares mais inóspitos e constatar o fim que a maioria dessas e de outras crianças tem. É mais fácil acreditar que todo pobre favelado se alimenta de futebol, cerveja e televisão e só serve pro trabalho mecânico e braçal.
Abs,
Crix Gomes

Marcelo Ribeiro disse...

não tive a intenção de ver um filme sobre a índia quando sentei-me, à tela em frente, em algum destes cinemas do rio (assisti em "pré-estreia"). sabia, contudo, tratar-se de uma co-produção índia-inglaterra (se não me engano). o título nem me fora tão atraente: "quem quer ser um milionário?" [original: "slumdog millionaire"] vítima, talvez, destas traduções intencionadas ou idiossincráticas de sujeitos que não têm lá muito talento para captar as riquezas das entrelinhas. veja-se bem que traduziram "Hard Candy" para "meninamá.com" (um dos roteiros de suspense mais interessantes que já vi de tempos últimos); quase não vejo: fosse ler o 'pontocom,' que fez, a pressa, me passar desapercebido, certamente por ali me bastava.
o filme ["slumdog millionaire"] não é sobre a índia, embora se a faça de uso em cenário (a fotografia é maravilhosa, as cores são muito bem exploradas, os atores contribuem bastante para a tal); o que me encantou, de fato, foi o roteiro, que é muito bem elaborado e rico em sutilezas (está longe do óbvio tradicional a que se reduzem os roteiros de muitos filmes americanos - que provavelmente não se propõem a ser sutis). não esperei sentar-me e ver um espetáculo cultural: um documentário sobre as manifestações populares indianas. acho que não esperei nada deste filme...por isso é que talvez me tenha surpreendido tanto mais: tinha por ele muito pouco, quase um descrédito, quando percebi, lá pelas tantas, que não se tratava, como lera em resenhas de jornais, de um "filme sobre um menino que participa de um 'quizz' para se tornar um milionário", mas de um que me mostrava como o tempo se articula para construir o destino. é claro que há muitas coisas de que não gostei (o fato de ter acertado, o menino, a última pergunta, o que conferiu ao filme um caráter "pop" - a pergunta final, para os objetivos maiores, já não precisava ser acertada...o destino cumprira seu papel; a 'dancinha final', na aparição dos créditos, entre outros). agora, tenho de dizer: é muito bonito...voltei, por alguns segundos, a acreditar no amor.

Alarcão disse...

Caros, obrigado pelos comentários sagazes e bem fundamentados. Prometo despir-me de preconceitos e assistir a mais filmes ganhadores de oscar.

Quando quero buscar um bom filme, logicamente divirto-me com voos escapistas para fora do espectro da realidade comum. Só não curto a sacarina das comédias românticas e filmes com aquelas caras de malvado, tiros, bíceps e litros de testosterona pingando da tela. Afora isso, há potencial para se divertir com muita coisa.

Se o assunto é documentário, quase todos me entretêm. (embora tenha assistido aquele "A Ponte" e achei muito ruim)

۞ Potira ۞ disse...

Esse foi um dos melhores documentários que eu assisti...

Ano passado até resenhei sobre este filme...

http://potirah.blogspot.com/2008/09/gopala-gopala-deva-ki-ananda-na-gopala.html

Pena que muita gente acha que na India só tem o Taj Mahal, depois de uma chuva de "conhecimento global".


Sorte minha que não assisto novela...

Gostei do teu blog e principalmente desta postagem.

=)