29.8.07

ABC do Mundo Judaico


Acabo de receber meu mais recente trabalho, o livro ABC do Mundo Judaico, escrito por Moacyr Scliar.

Esta é uma publicação da Edições SM, e veio para juntar-se ao "ABC do mundo africano", e ao "ABC do mundo árabe", este último, primorosamente ilustrado pelo meu amigo Alê Abreu

Um dos melhores aspectos da minha profissão é que, a cada projeto, temos oportunidade de ampliar nossa cultura, e, no caso deste livro, foram muitas horas navegando na internet, assistindo a filmes maravilhosos (não percam Al Pacino como Shilock em "O Mercador de Veneza". Fascinante!) e muitas, muitas leituras interessantíssimas.

Dentre os textos que li, destaco "A Alma Imoral", livro do rabino Nilton Bonder. A peça teatral de mesmo nome, uma adaptação da atriz Clarisse Niskier, é um monólogo profundo sobre diversas questões existenciais sob a ótica judaica. Sozinha no palco, com apenas um tecido sobre seu corpo nu, Clarisse Niskier é uma aparição sábia e maravilhosa. Ela ganhou o prêmio de melhor atriz este ano por esta adaptação.

Lembro-me que, logo no início da peça "A Alma Imoral", a protagonista revela-se uma judia-budista, e conta que, num programa de TV, o rabino Bonder foi um dos únicos que a defenderam em um debate acalorado que se seguiu à esta afirmação. É importante buscar - e encontrar - identificação com os aspectos positivos presentes em todas as religiões, já que, a princípio, elas buscam a elevação espiritual do homem.

Neste momento, graças a este trabalho no ABC judaico, percebo-me um admirador muito mais consciente das causas do povo judeu. E sinto-me também mais à vontade para crer-me um católico-budista-judeu, curioso sobre isso e aquilo etc e tal.

O prefácio do ABC do Mundo Judaico é do Bibliófilo José Mindlin, que diz, dentre outras coisas, o seguinte:

" Este ABC vai mostrar a vocês a tradição de um povo que tem perto de 6 mil anos e de uma religião com a mesma idade. Nesse tempo foi-se desenvolvendo uma cultura bastante variada, que se apóia no gosto pelos livros e pela leitura. Fala-se até dos judeus como o "povo do livro""

E ao final ele completa:

"Depois de ler este livro, leia também o ABC do mundo árabe. Na briga entre judeus e árabes da Palestina, os dois têm razão e os dois estão errados, brigando como agora. Espero que, após a leitura, vocês percebam o que está errado e se convençam de que todos os povos do mundo devem viver em paz."

A capa que você vê na foto é uma releitura do trabalho em vitrais criado pelo pintor Marc Chagall para uma sinagoga em Jerusalem.

13.8.07

Tô na TPM



Nada de tensões pré-menstruais. Tô na paz e sem chorinho (apesar da carranca na foto).
Falo da revista "Trip para Mulheres" (que é muito boa!)
A edição de Agosto (com o Gianechinni photoshopado na capa) tem excelentes matérias. Destaque para as da Cynthia Howlett (de quem partiu a sugestão do meu nome) e também uma outra sobre senhorinhas de 60 e 70 anos com passado de guerrilheiras.

Ilustrando em Revista


Vai até 26 de Agosto a exposição Ilustrando em Revista, promovida pela editora Abril.
Acontece em Belo Horizonte, no Museu de Artes e Ofícios.
Estão lá, além de 506 ilustrações, 177 ilustradores e 39 anos de história, uma pequena mostra paralela chamada "Arte como Ofício", com trabalhos de 7 artistas e seus processos criativos: Cárcamo, Marcelo Gomes, Benício, Carlo Giovani, Negreiros, Fernando Vilela, e eu (com meus sketchbooks).

Para visualizar as ilustrações, fotos e etcéteras, clique no título.
Aproveito para deixar aqui um beijo para a Bebel Abreu (na foto junto com Alceu Nunes, designer fera e mentor da idéia). Ela é quem cuida com todo amor e carinho da itinerância desta exposição, e me contou que este evento é o maior recorde de público desde a criação do museu. Aliás, a exposição tem batido recordes de público em todas as cidades por onde passou. Quero ver essa festa no Rio em 2008!

Não quero a linha reta e inflexível



"Quando uma forma cria beleza tem na beleza sua própria justificativa."

Entendo que Niemeyer é o criador não somente de estruturas e espaços incrivelmente originais, mas também o arquiteto de frases belíssimas, que contrastam simplicidade e profundidade.

Ao longo dos anos venho registrando em cadernos tudo aquilo que capta minha atenção: imagens, palavras, desenhos, colagens aquarelas, coisas que encontro, enfim, toda e qualquer matéria que estimule a educação do meu olhar. Neste ponto acredito e sigo a máxima do mestre: procuro não me limitar å aprendizagem do meu metier, mas também ler bastante, ir ao cinema, ouvir boa música, enfim, tudo que me permita melhor conhecer meu ambiente cultural. Também me agrada muito mais a curva livre e sensual do que a linha reta e inflexível!
Estas páginas do meu sketchbook refletem justamente este contraste entre a beleza das curvas da mulher, e a rigidez dos cânones arquitetônicos. A aquarela livre e gestual emoldura a frase do arquiteto-poeta, e combina-se com o croqui das colunas clássicas.
A arte destas páginas participou de uma exposição sobre Niemeyer, homenageado este ano pelo Festival Internacional de Quadrinhos, realizado em Belo Horizonte.
(Para conhecer um pouco mais sobre o arquiteto, clique no título e vá ao site inacreditavelmente humilde da Fundação Niemeyer)

Processo de Criação

Aproveitando a data festiva de Agosto, aproveito para relembrar um artigo publicado numa revista. Para ler, basta clicar no link do título.

Leitura de domingo levemente triste


Acabo de ler o livro Caligrafias, de Adriana Lisboa.
Lindo, lindo, lindo. Até o espaço entre as palavras.

Certa vez participei de um curso de contos em que ela era a professora. Não consegui escrever uma linha sequer. Clique para se aquecer com as coisas que ela escreve.

10.8.07

Le Monde Diplomatique, alimento pra cabeça (e para os olhos)



Já está nas bancas a primeira edição do Le Monde Diplomatique em sua versão brasileira, que veio preencher um espaço que estava vazio na nossa imprensa, oferecendo um olhar crítico e analítico sobre o mundo e o país.

O projeto gráfico está nas mãos de Daniel Kondo, ilustrador e designer, que me deu a honra de criar a ilustração que está na capa desta edição histórica.

Além do melhor do jornalismo mundial, com análises aprofundadas sobre grandes temas econômicos, sociais, políticos, culturais e filosóficos, o mensário traz uma proposta visual que apóia-se firmemente no uso de ilustrações. E os desenhos estão em quase todas as páginas, com trabalhos de Claudius, Seymour Chwast (do legendário Pushpin Studio), Tide Hellmeister, dentre outros.

Graças à experiência do Kondo, que conhece bem o lado de cá, todo o trabalho de criação da capa foi desenvolvido da forma certa: o ilustrador teve total liberdade para sugerir uma imagem que melhor traduzisse o tema "América Rebelde". Melhor dizendo, nenhum jornalista se meteu a "brifar" o conteúdo do desenho.



Desta maneira, apresentei 3 idéias, das quais partimos para a finalização desta que representa uma realidade na atual sociedade americana: o desconforto dos cidadãos americanos com a apropriação dos seus símbolos mais sagrados por uma classe política que tem em Bush seu sacerdote-mor.
Vejam só essa... meus amigos americanos contam que desistiram de pendurar a "star and stripes" nos mastros à porta de suas casas depois de constatar que sua bandeira tornou-se escudo moral para os desgovernos republicanos.



Então é isso. Corram para comprar a sua edição do Le Monde Diplomatique. São 40 mil exemplares e, pelo que fiquei sabendo, as bancas já estão pedindo reposição de estoque.

A ilustração editorial brasileira merecia este espaço!