15.1.13

Algo de incrível no reino da Dinamarca

Por volta do ano 2000 encontrei na estante da biblioteca pública de Nova York um livro com um portfolio de ilustrações fenomenais a nankim. Trazia metáforas visuais surpreendentes e que, invariavelmente me conduziam a um mergulho interpretativo visceral e não-objetivo. 

Eram desenhos virtuosos e enérgicos, desconstruídos, seguros, intelectuais e ao mesmo tempo emotivos. Coisa de quem sabia muito, de trás pra frente, de cima a baixo e ainda fazia pirueta dupla carpada Daiane dos Santos na arte do desenho em preto e branco.

Na capa preta daquele livro encontrei apenas um nome estranho:  Per Marquard Otzen. Na apresentação, palavras de Andres François, o que em si era um atestado da "poderosidade gráfica" do indivíduo em questão.

Pesquisando no oráculo digital do Google nada encontrei que se parecesse com aquelas imagens que havia visto na publicação. Descobri no Google apenas alguns desenhos que, nem de longe, tinham a força daquela primeira revelação. 

Como poderia ser? Um artista daquele naipe e inexistente na internet? Nem uma fan page? Será que ninguém o conhecia?

Da pesquisa na internet concluí apenas que o nome estranho é originário da Dinamarca, e isso aliviou a impressão que eu tinha, de que o texto na capa onde se lia "Per Marquard Otzen" tivesse por tradução a frase "A maravilhosa arte de...".

Um dos clichês mais batidos na ilustração conceitual é o desenho da cabeça. Cabeças da qual saem objetos, cabeças com rodas, cabeças em forma de árvores, cabeças cujos olhos projetam luzes, cabeças com o tampo aberto, com projetores de cinema, enfim, o símbolo está mais gasto que sandália de romeiro. Na obra de Otzen ele abusa do uso de cabeças, e consegue o impossível: ser original e inusitado.

Este é, de fato, o portfolio a nankim que mais me impressiona até hoje. 













1.1.13

Life of Pi

Em 7 de Julho de 2002 o caderno de literatura do jornal New York Times publicou uma resenha sobre um livro que havia acabado de ganhar o Booker Prize, um dos mais renomados prêmios literários do Reino Unido. 


Steve Heller, então diretor de arte do NY Times, me passou a missão de ilustrar aquela crítica. Foi o meu primeiro trabalho para o jornal e, sabendo da bagagem do Mr. Heller, autor de mais de 100 livros sobre design e ilustração, senti de cara o "peso da responsa". 

No mesmo dia tratei de pegar na biblioteca perto de casa o livro de Yann Martel e, antes que o sol raiasse, já havia devorado a extraordinária e mágica história do menino e do tigre náufragos.


Logo nos primeiros minutos com o livro nas mãos (e passado o deslumbramento com a capa), atraiu minha curiosidade um agradecimento do autor canadense ao gaúcho Moacyr Scliar na página de dedicatória. Somente muitos anos depois dei-me conta do motivo (veja no video).




Dez anos atrás, o diretor Steve Heller trabalhava de uma maneira peculiar com os novos ilustradores: marcava a apresentação do portfolio e folheava-o em 10 minutos sem dizer uma única palavra. Se gostasse do que havia visto nos entregava o texto para ilustrar e a entrega da arte final ficava marcada para ser feita pessoalmente dois dias depois. Com mais experiência, vim a aprender que trabalhos para jornais, pelo escasso tempo, não passam pela etapa de aprovação de esboços. 

No dia combinado levei o desenho protegido na pastinha e, apreensivo entreguei-o nas mãos do sisudo diretor e lenda-viva do caderno Book Review do Times..

"What a lovely drawing!", disse ele com um sorriso.

Saí de lá feliz e aliviado. E nunca mais esqueci a história do tigre e do menino aprendendo a sobreviver juntos em um bote salva-vidas.



Feliz 2013


Em uma bela manhã de sol tiramos uma folga na rotina e fomos todos bem cedo à praia de Itacoatiara, aqui perto de casa. A foto foi feita pela minha mulher e mostra nosso filho mais velho, Vicente, levitando com o olhar fixo no horizonte.