24.1.07

GRAPHIC: Cadernos, diários e sketchbooks


O título deste post nos leva à edição mais recente da revista Inglesa de artes visuais, GRAPHIC (Dezembro 2006). Desde já considere-se a publicação um item básico das bibliotecas dos melhores artistas.
Além das muitas imagens, esta edição vem com ótimas coisas para ler: uma entrevista com a ilustradora Sara Fanelli (não percam dela os livros "My Diary" e também o "Pinnochio", uma obra prima da ilustração nestes recentes anos), e para os designers, a Graphic traz também Stefan Sagmeister com a crônica "My Year Without Clients" além é claro, as páginas dos diários, cadernos e sketchbooks de muitos artistas do mundo inteiro.

16.1.07

Revista Graphic


Vejam lá também 8 páginas sobre meus diários, além de uma pequena entrevista com este que vos escreve estas tortas linhas.
Estas fotos aqui no blog são do designer Pablo Dias, uma das primeiras vítimas do meu curso Diário Gráfico, e que hoje é um excelente designer e também fundador do grupo de artistas "Caderneiros". Para ver imagens da sua exposição Cadernices (que rolou na PUC-Rio), sobre os registros do processo criativo, é só dar um clique no título do post.

Revista Graphic II


Tenho colecionado as grafias erradas do meu nome. Já vi Alarcacao, Alcaro, Alarco e desta vez, colocaram um acento que dá um ar tcheco ao meu sobrenome. Gostei.
Esta página é do último sketchbook que completei antes de voltar a morar no Brasil. Lá pelos idos de 2002.
Diz o seguinte:
"Pela internet leio notícias do Rio. A cidade está refém da bandidagem. Em uma semana 50 ônibus foram incendiados. Gente comum tem perdido a vida por nenhum motivo. Faltam menos de 3 semanas para a volta e não sentimos nenhuma empolgação. Queria ao menos algumas certezas...
Ida e volta trazem consigo emoções díspares. Quando vim, o encontro com o desconhecido despertava alegres borboletas em meu estômago. Tudo apontava para o crescimento e evolução. A volta traz um outro tipo de novidade: o encontro com uma realidade que, embora conhecida, se apresenta de cara nova. Um notável agravamento do fosso social, das diferenças e da violência urbana. Tudo isso ampliado pelas novas lentes que minha percepção conquistou: o olhar de fora.
Apesar de tudo, quando elevo meus pensamentos, lembro-me das pessoas queridas que vou reencontrar, caras conhecidas e ainda não-conhecidas, e penso ainda nos que já morreram mas que, com certeza, são parte importante da minha memória afetiva.'

A foto é do Zé Pequeno, do filme "Cidade de Deus". Fui assisti-lo com uns amigos gringos, que adoraram, mas na saída me pediram desculpas por terem decidido não mais virem me visitar no Rio.

Revista Graphic III


Este caderno me propôs um desafio diferente: quebrar o bloqueio da página preta. É bem mais difícil!
Para ver imagens dos meus sketchbooks (os mesmos que saíram publicados na Graphic) , visite meu site em www.renatoalarcao.com.br

11.1.07

Brad Holland, crítico de arte, ensaísta e, quem diria, ilustrador

Há um bom tempo leio os artigos que o ilustrador Brad Holland escreve. Tenho comigo um excelente livro teórico onde ele desfila suas convicções com grande propriedade ("The education of an Illustrator", de Steve Heller e Marshall Arisman ).
Brad Holland é um sujeito esperto e cheio de ironia. Noto que muitos dos seus ataques às vacas sagradas no mundo da arte são decorrentes de algumas posições que eu até compartilho com ele. São elas:
1) Tem muuuita picaretagem por aí atendendo pelo nome de arte
2) Os ilustradores tornaram-se os principais herdeiros de séculos de conquistas, invenções e descobertas na criação pictórica

Aqui no Brasil, destaco dois cronistas com a mesma habilidade em distribuir seus petardos sobre a chamada arte contemporânea: Affonso Romano de Sant'Anna (imperdível o seu livro "Desconstruir Duchamp") e Arnaldo Jabor, cineasta-colunista que suscita ondas de amor, ódio e pruridos em seus leitores.
Em duas ocasiões notei que o Jabor citou em suas crônicas o nome de Brad Holland como "crítico e ensaísta", notadamente desconhecendo ser ele um ILUSTRADOR.
No artigo "A Arte deve ser a exaltação da vida (Afinal, o que é a arte no mundo de hoje?), disse o Jabor:
"Acontece que críticos e ensaístas sacanas mas brilhantes como Brad Holland, por exemplo, vêem esta brecha teórica no ar e comecam a destratar a arte em geral, com claros tons reacionários e, no caso de Holland, muito engraçados. Ele refere-se ao beco sem saída da arte, que descrevo neste artigo-cabeça. Diz ele: "Tanto o dadaísmo como o surrealismo estão superados. É impossível distinguir esses movimentos estéticos da vida cotidiana". E depois: "Não há mais o que transgredir. Tudo foi assimilado.'Estamos rompendo com as normas' é, hoje, o slogan do McDonald's. E a piada final, o punch line:"Antigamente o artista de vanguarda chocava a classe média. Hoje a classe média choca o artista de vanguarda".

Sim meus amigos, os ilustradores pensam - nem todos, mas os poucos que sabem pensar o fazem pelos que não pensam (que merda de frase, mas era isso mesmo que eu queria dizer)

Vai lá ver o trabalho do cara: http://www.bradholland.net/beta/portfolios/portfolioAdv.html
Para ler os artigos (english of course), vá em http://www.illustratorspartnership.org/01_topics/index.php (digite o nome do sujeito no campo "search articles by author")

Frases de efeito


Brad Holland sabe desenhar e escrever bem. Os desenhos vocês já conhecem. Agora vejam as frases:

"Expresse-se! É mais tarde do que você pensa."

"Todo mundo é um artista hoje em dia. Astros do Rock'n roll são artistas. Da mesma forma diretores de cinema, performáticos, maquiadores, tatuadores, e cantores de rap. Estrelas do cinema são artistas. Madonna é uma artista porque explora sua própria sexualidade. Snoop Doggy Dogg é um artista porque explora a sexualidade alheia. Vítimas que expressam sua dor são artistas. E também os caras na prisão que se expressam em papelões de camisetas. Até mesmo consumidores são artistas quando expressam seu gosto na escolha de produtos. As únicas pessoas que sobram na América que parecem não ser artistas são os ilustradores."

"O Milagre da Autenticidade: a fé de que, se formos todos autênticos e nos expressarmos, a sociedade irá se beneficiar. Este é um ideal encantador, mas que subestima o óbvio. Há um monte de autênticos imbecis e idiotas no mundo. Encorajá-los a se auto-expressarem nunca fará bem algum a ninguém, muito menos à sociedade"

"Sobre o Expressionismo Abstrato: Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos emergiram como a superpotência mundial. Empresas americanas como a Esso, por exemplo, que até então haviam funcionado apenas como negócios regionais, tornaram-se corporações internacionais. Passaram a adotar então nomes abstratos como Exxon, ou Citgo, que dariam à elas um status "world-class". O fato de gigantes multinacionais não poderem ter dependuradas nos lobbies dos seus prédios da Bauhaus pinturas de palhaços chorando ou de celeiros vermelhos, fez com que o Expressionismo Abstrato surgisse como a mais superfaturada forma de decoração de interiores"

Estilo não tem dono (ou "a drunkard's ass is nobody's property")


Brad Holland foi um dos primeiros a encarar abertamente o gigante Golias que são os conglomerados de licenciamento de imagens, ou Stock Agencies (por aqui chamados Bancos de Imagens). Há um bom tempo atrás algumas Stocks cutucaram seu calcanhar de Aquiles ao contratar jovens artistas para simplesmente clonarem seu estilo. E não teve jeito: estilo não é algo que possa ser registrado como propriedade intelectual, e os vários Holland-clones fizeram a festa dos bancos de imagens. Brad Holland teve então que deixar de lado suas acrílicas texturizadas e partiu para uns pastéis com um quê de primitivismo. Até que voltem a copiá-lo.
Para ver o traço atual do Brad Holland, clique no título

5.1.07

Uma idade para ser feliz


Somente porque estamos no início de um novo ano, resolvi postar aqui uma mensagem para inspirar-nos com um pouco de entusiasmo pela vida. As palavras são de Mário Quintana, ilustradas aqui com a capa do recém lançado livro infantil sobre a vida do poeta. Acabou de ser editado pela Mercuryo Jovem.

"Existe somente uma idade para a gente ser feliz, somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos e ter energia bastante para realizá-los a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.
Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente e desfrutar tudo com toda intensidade sem medo nem culpa de sentir prazer.
Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança e vestir-se com todas as cores e experimentar todos os sabores e entregar-se a todos os amores sem preconceito nem pudor.
Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo NOVO, de NOVO e de NOVO, e quantas vezes for preciso.
Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE e tem a duração do instante que passa."