29.10.07

TANGA!!!


Há muitos anos atrás o saudoso Henfil fez um filme chamado "Tanga", que contava a pitoresca história de uma nação que exportava cabelos e importava perucas.

Obviamente Tanga é uma metáfora para o Brasil. O Brasil das laranjas, bananas, aço, carne e também dos... lápis de cores!

Sim, esta prosaica ferramenta de trabalho também participa do universo "Tanga". Vejam só por que:

Esta semana chegou uma caixa de materiais de arte que eu havia encomendado à "Dick Blick" , uma loja muito boa de Nova York. Dentre meus apetrechos estavam também algumas coisas que minha mulher havia pedido. Chamou-me atenção uma caixinha com 36 lápis de cor da marca Faber Castell, com a frase "Made in Brazil" no verso.

Custa lá fora 4 dólares, que ao câmbio atual de R$1,81 daria R$7,24.
Acontece que a tal caixa de lápis, exatamente a mesma fabricada no Brasil e exportada para os EUA, custa aqui 24 reais. É pouco mais do que o triplo do preço.

TANGA!

28.10.07

Diário Gráfico "Crash" começa nesta sexta-feira


Começa no dia 2 de Novembro a versão compacta da oficina de desbloqueio criativo que usa o livro como suporte. Como sempre, a teoria e a prática são intensivas.

Esta versão "Crash" do Diário Gráfico é a opção ideal para quem não tem tempo de fazer o curso integral. A oficina também foi criada para artistas e estudantes de outros estados que queiram vir ao Rio de Janeiro cursá-la na sexta, sábado e domingo. Como o trabalho rola na parte da manhã, sobra tempo para curtir as ótimas exposições que estão acontecendo na cidade. Ah, claro, tem também a praia, para quem curte praia. O melhor do Rio é de graça!

Escreva para estudiomarimbondo@terra.com.br e garanta uma vaga na turma que começa nesta sexta-feira, às 18h.
Horário: sexta das 18 às 21:30 h
Sábado: das 10 às 13h
Domingo: das 10 às 13h
10 alunos por turma
Investimento: 300,00 à vista. Materiais básicos fornecidos.

A versão "Crash" do Diário Gráfico inclui a palestra teórica em sua íntegra.

As eco-sandálias da humildade


Deu no jornal: Brasil é campeão mundial de reciclagem de latinhas. 94% delas são reaproveitadas. Que beleza! Um índice que nos encheria de orgulho não fosse o fato de que esta "consciência ambiental" é somente um verniz para a miséria escancarada de nossas ruas, onde muitas famílias sobrevivem do garimpo nas lixeiras.

Enquanto isso as garrafas pet continuam um grave problema ambiental aqui e em todo o mundo. Dizem que se fosse possível recolher todos os recipientes plásticos que flutuam pelos oceanos do planeta poderia-se fazer um novo continente. Flutuante como aquelas ilhas do lago Titicaca, imagino.

O brasileiro, esse ser criativo por natureza e pelas contingências da vida ("a necessidade é a alma da invenção"), sai na frente na batalha por um mundo mais limpo e lança moda: as verdadeiras sandálias da humildade.

Nem Nelson Rodrigues, original cunhador da expressão (e não os rapazes daquele programazinho de humor idiotizante...), poderia imaginar que suas sandálias da humildade teriam um apelo tão ecologicamente fashion.

Não vejo a hora de desfilar com as minhas. Quero que sejam da cor verde.

Mitologia Grega

Estas são algumas das ilustrações criadas para o livro O Herói e a Feiticeira, que está em fase de finalização. Estou usando nestas artes uma caneta chinesa excepcional, presente do meu amigo "Kako", criador e organizador do sensacional "Bistecão Ilustrado".

Sem dúvida "O Herói e a Feiticeira" é um dos melhores textos sobre os quais já tive a felicidade de trabalhar (a escritora é a Lia Neiva). Em breve nas livrarias.



Universidade

Esta saiu no Le Monde 3, em um artigo sobre universidades da Europa. Foi a ilustração mais rápida que já fiz até hoje (pouco menos de meia hora). Penso que, às vezes um prazo apertado é tudo o que precisamos para soltar a mão.

27.10.07

Não chores por mim Argentina


Acabo de chegar de Buenos Aires, uma bela e civilizada cidade onde todos os velhos têm cara de escritor, onde as garrafas de cerveja são de litro, onde os alfajores nos causam festa no palato e os churrascos não são lá grande coisa; onde deve-se tocar a campainha para entrar nos sebos, onde não se vêem pedintes ou ambulantes a vender balas nos sinais de trânsito, e onde o gene da calvície parece ainda não ter se instalado.

Para minha completa estupefação, notei que inexistem por lá pessoas negras. Sobre essa peculiaridade - contou-me um guia portenho - a explicação histórica está no desgracento século XVII, quando muitos deles foram enviados à guerra, e os poucos que ficaram - mulheres e crianças- foram dizimados por um surto de febre amarela e por isso não deixaram semente.
(um amigo do Rio Grande do Sul me conta uma história um tanto diferente...Segundo ele, o que houve mesmo foi o extermínio deliberado)



Como turista comprei algumas cositas, dentre elas um legitimo exemplar do chamado "Filete Porteño", tradicional artesania tipográfica local. Até os ônibus que circulam pela capital desfilam um ou outro detalhe em filete.

O velho mito de que a capital argentina é um dos locais no mundo onde se concentra o maior número de livrarias por habitante é uma mentira deslavada. Admito que fui para lá com meu coraçãozinho bibliófilo repleto de esperanças e acabei frustrado.

Em uma visita a um sebo no bairro da Recoleta, cheguei a ter em mãos dois exemplares dos tratados de ensino de desenho de Andrew Loomis, ambos a preços exorbitantes. Estes livros vão encalhar com certeza, roguei praga ao irredutível proprietário. Saibam todos que os livros do Loomis já se encontram disponíveis na internet em PDF para serem baixados gratuitamente. Dica do generoso amigo "Hiro Kawahara". (Não, o Hiro não é esse cara aí embaixo no desenho de Carlos Alonso)



O ponto alto das minhas garimpagens bibliomaníacas foi um livro ilustrado pelo fenomenal dibujante argentino Carlos Alonso. "La Guerra Al Malon" narra o conflito entre o exército argentino e os índios que estrangulavam a vila de Buenos Aires há uns duzentos e tantos anos atrás. Creio que foi este mesmo livro que caiu nas mãos do ilustrador Miran, que dedicou a Carlos Alonso várias páginas de sua revista Grafica. As imagens são estas que você vê.





"Enquanto os brasileiros já nascem sabendo jogar bola, os argentinos já nascem sabendo desenhar", disse certa vez um importante artista brasileiro (cujo nome não cito por não ter certeza se é ele mesmo o autor da frase). Pergunto-me: será que pouco mais de meia dúzia de artistas lapidares (Nine, Munõz, Breccia, Carlos Alonso, o uruguaio Sábat, etc) justificaria esta fama?

Dentre os pontos altos desta viagem vale citar uma visita ao bairro de Palermo Soho, onde fica uma loja chamada "Papelera Palermo", que vende uns bons papéis artesanais, sketchbooks e livros de artista em edições limitadas. Também se encontram naquela região muitas lojas com trabalhos autorais bastante criativos (moda, objetos de design etc). Encontrei também em Palermo próximo a uma praça chamada Julio Cortázar, circundada pela rua Jorge Luis Borges, boas livrarias, cds e bares bons para se entornar uma Quilmes de litro bem gelada acompanhada de umas empanadas.

O Cemitério da Recoleta é um lugar interessante para ser visitado, e algo ali me fez crer ainda mais fortemente que o ser humano é um animal muito esquisito.

O museu Malba tem um acervo irregular, com muita merda como aquela coisa feia chamada Abaporu e também uns quadros engana-trouxas feitos pelo Hélio Oiticica e a Lígia Clark. Claro, existem também algumas belas obras cubistas do Diego Rivera, algumas visões da Frida Kahlo, e uns outros artistas cujos nomes foram ofuscados pelas coisas absolutamente medíocres e indigentes ao redor (será que usa-se a arte contemporânea para lavar dinheiro?).


O Malba é, até certo ponto, como o MAC de Niterói (cidade onde moro): vale pela visita ao prédio. Arrisco-me a dizer que a arquitetura arrojada tem sido a tábua de salvação dos museus de arte contemporânea pelo mundo afora.

Infelizmente minha curta visita não incluiu o final de semana, quando acontece a feira de antiguidades de San Telmo, que dizem ser muito boa.

De volta ao Brasil, penei pelas intermináveis conexões aéreas, entrei em aviões com o mesmo pensamento de sempre ( "se esta merda cair eu não terei a menor chance"), virei noite acordado no aeroporto de Porto Alegre e agora, demonstro sinais de completa insanidade ao gastar meu precioso tempo de dormir escrevendo reminiscências e irrelevâncias às duas e meia da manhã.

17.10.07

O sétimo Selo



O cavaleiro Antonius Block retorna das cruzadas e, numa praia deserta, cai de joelhos em oração. De olhos cerrados e expressão amarga, sussurra algumas palavras.
Atrás dele está uma figura de negro. Sua face é muito pálida e as mãos escondem-se sob as grossas dobras do seu manto.
Block se assusta e diz:
"Quem é você?"
"Sou a morte", responde mansamente a figura de negro.
"Veio me buscar?", indaga o cavaleiro.
"Na verdade, tenho andado a seu lado por um longo tempo"
"Isso eu sei..."
"E você, está preparado?", pergunta a morte
"Meu corpo está assustado, mas eu não."
"Bem, não há vergonha alguma em admitir isso"
O cavaleiro ergue-se. Ele treme. A morte abre sua capa e prepara-se para envolvê-lo em seu frio abraço.
"Espere um momento!", o cavaleiro grita.
"Ah, claro, é o que todos dizem nesta hora...Não posso adiar isso!", retruca a morte.
"Você joga xadrez, não?", pergunta o esperançoso Antonius Block.
Subitamente um brilho de interesse cintila no olhar da morte.
"Mas...como você sabe disso?", ela o questiona.
"Já a vi assim em pinturas, já ouvi falar disso em canções..."
"Sim, de fato sou um jogador de xadrez muito bom", a figura de negro concorda com um leve sorriso.
"Mas você não é capaz de jogar melhor do que eu!", desafia o cavaleiro, já vasculhando uma bolsa surrada para dela sacar um pequeno tabuleiro de xadrez, que coloca cuidadosamente no chão.
" E por que você deseja jogar xadrez comigo?", pergunta a morte.
"Eu tenho minhas razões...", diz o cavaleiro, dedos afoitos a posicionar as peças em seus devidos lugares.
"Sim, este é um privilégio seu", diz a morte.
Antonius Block estende suas duas mãos fechadas para a morte, para que ela escolha com qual das peças deseja jogar.
Ele diz:
"A condição é que eu possa viver enquanto estiver jogando esta partida de xadrez contra você. Se eu ganhar, você me liberta. Concordamos?"
Sem nada dizer, a morte simplesmente aponta para uma das mãos do cavaleiro, que, ao abrir-se, mostra um peão negro.
"Você tirou o negro!", ele se surpreende.
A morte responde:
"Bastante apropriado, não acha?"
E então os dois oponentes debruçam-se sobre o tabuleiro. Após um momento de hesitação, Antonius Block abre o jogo com o peão do rei.

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A Ilustração foi criada para a exposição Cinema Desenhado, que vai acntecer em São Paulo em Novembro. Para saber onde e como chegar no local, clique no título.

14.10.07

As Irrelevâncias da Arte



Um artista performático implantou uma "terceira orelha" no seu antebraço esquerdo.

E nossa, quase que o eixo do mundo das artes mudou de inclinação com tamanha façanha!

O nome do artista não interessa porque não vou fazer aqui publicidade de um bobo. E que bobo é esse cara...

Durante dez anos ele procurou um cirurgião que aceitasse fazer a controvertida operação, até que conseguiu um. Um idiota que merecia perder o diploma, ou que fez do juramento de Hipócrates seu papel higiênico.

Primeiro a tal orelha foi "cevada" em laboratório a partir de células humanas. Com um conta gotas derramou-se um fluido rico em células que, então, se reproduziram sobre uma estrutura porosa esculpida com a forma da orelha. A técnica foi a mesma que resultou nessa orelha escrotésima aí implantada nas costas do rato.

O bobão do artista declarou à imprensa que, assim que a orelha estiver totalmente desenvolvida, ele espera poder implantar um microfone no antebraço "para que as obras dialoguem entre si".

Repassei esta estrondosa notícia para a lista do Diário Gráfico sob o título "As Irrelevâncias da Arte Contemporânea".

Um amigo ilustrador, inteligente, talentoso, gente fina e inclusive bastante conhecido de todos me escreveu para opinar sobre a dita obra:

"Alarca, ele bem que podia implantar um cu e cagar pelo cotovelo.

Boring..."

Obra de arte ou a arte de "obrar" ? Cartas para a redação.

12.10.07

Zohar




Finalmente recebi fotos de quem esteve no stand da editora espanhola SM na Bienal do Rio.

Não consegui ir a Bienal, em parte porque não podia parar o que estava fazendo na ocasião, e também porque cheguei à conclusão que, todos os livros que me interessam no momento já estão na minha estante somente aguardando leitura.

O Stand da SM segue o design da capa do catálogo da editora, com uma ilustração que fiz sobre o Zohar, o livro da sabedoria judaico. Ela foi publicada no livro ABC do mundo judaico.

8.10.07

Perdeu playboy!



8 de outubro de 2007.

Saiu hoje na Folha de São Paulo um artigo de Ferréz, nome literário de Reginaldo Ferreira da Silva, 28 anos. Ele escreveu ‘Capão Pecado‘ (Labortexto, 2000), um romance sobre o cotidiano violento do bairro do Capão Redondo, na periferia de São Paulo, onde vive. É de autoria dele também o ‘Manual Prático do Ódio‘ publicado pela Objetiva".

O seu artigo na Folha de São Paulo foi uma réplica ao que foi escrito na semana anterior por Luciano Huck, vítima recente de um assalto no trânsito, onde os motoqueiros levaram seu "Rolecão". Não li o artigo do Huck, porém a mídia (ah a mídia...) deu grande destaque à frase "chamem o Capitão Nascimento", que consta lá em algum parágrafo.

Ferrez escreveu diferente a sua versão. Fez uma breve crônica do cotidiano, com um ritmo sincopado de um hip hop, meio reportagem, meio "a vida como ela é". E eu curto muito esse tipo de abordagem literária.

" A hora estava se aproximando, tinha um braço ali vacilando. Se perguntava
como alguém pode usar no braço, algo que dá pra comprar várias casas na sua
quebrada. Quantas pessoas que conheceu, trabalharam a vida inteira, sendo
babá de meninos mimados, fazendo a comida deles, cuidando da segurança e
limpeza deles e no final ficaram velhas, morreram, e nunca puderam fazer o
mesmo por seus filhos.

O escritor do Capão Redondo finaliza o artigo assim:

"No final das contas todos saíram ganhando, o assaltado ficou com o que tinha
de mais valioso que é sua vida, e o correria ficou com o relógio.
Não vejo motivo pra reclamação, afinal num mundo indefensável até que o rolo
foi justo para ambas as partes."