26.7.07

Vem aí a quarta edição do Ilustra Brasil!


Vem aí a quarta edição do Ilustra Brasil!, organizado pela SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil e pelo Senac-SP para celebrar o universo destes artistas que, trancados em seu estúdios, inventam o mundo onde antes havia apenas o papel, a tela, o mapa de bits em branco.

Novamente o evento acontecerá no Senac Lapa-Scipião (Rua Scipião, 67 – Lapa – São Paulo-SP) entre os dias 6 de agosto e 6 de setembro com uma programação que inclui palestras, oficinas, debates e, claro uma super exposição de mais de 90 ilustrações com idéias, técnicas e estilos tão diversos quanto o próprio Brasil.

Convido a todos a fazer uma visita ao site http://ilustrabrasil.sib.org.br/

Este ano o IB!4 traz ainda o convidado internacional Hermenegildo Sábat, legendário cartunista argentino.
Conheci o Sábat pessoalmente no XV Salão Carioca de Humor de 2005, quando ele me entregou em mãos o prêmio de melhor cartum com a ilustração "Lava Jato", o primeiro e único desenho de humor que fiz na vida (é só clicar no título)

Quem quiser ver, que olhe


"muitos artistas olham os ilustradores com um certo desdém porque trabalhamos por dinheiro, com prazos a cumprir, e frequentemente nossos temas são prescritos por um editor. Nossa arte é "legível" e muitas vezes carece de complexidade de conteúdo, o que a afasta do discurso das artes plásticas"

Se, no passado, afirmações como estas eram como regras que segregavam a ilustração como mera decoração, entretenimento visual ou em última análise, o "primo pobre nas artes visuais, hoje vemos uma verdadeira revolução na importância que nossa arte assume na cultura visual contemporânea.

Olhem ao redor e percebam: neste início de século as artes plásticas, a fotografia, o cinema, a moda, o design de interiores, os brinquedos, os museus e até os muros das cidades fazem reverência à ilustração!

19.7.07

Corte fora a sua cabeça!


Essa é do meu mestre, o ilustrador Marshall Arisman:

" When illustrators get creatively stuck I offer the advice given to me by writer friends: cut your head off and start working with your hands!"

"Quando ilustradores se encontram criativamente bloqueados eu ofereço o conselho que recebi dos meus amigos escritores: corte fora a sua cabeca e começe a trabalhar com as mãos!"

Clique no título, sit back and relax.

Abordagem profissional a uma lenda-viva


Essa quem me contou foi o ilustrador Mirko Ilic, amigo do Milton Glaser, fundador do histórico Push Pin Studios e designer gráfico de fama internacional.

O designer liga para o "gentleman" Glaser para orçar um projeto de cartaz. Sem ter a menor noção de que fala com um profissional que é uma lenda-viva nas artes gráficas, o jovem dá início à sua abordagem profissional.

- "Mr. Glaser, queremos contratá-lo para fazer um cartaz, etc e tal... Quanto o Sr, cobra?"

- "Entre 10 e 20 mil"

- "Whoa! Tudo isso? Será que podemos chegar a um meio-termo? Pense bem, afinal um cartaz terá sua ilustração bem grande, ficará exposto em vários locais de circulação onde muita gente vai poder vê-lo..."

Silêncio do outro lado da linha.

_ "Isso sem contar na divulgação do seu nome, Mr Glaser. Será que conversando podemos chegar a um valor mais em conta, dentro do nosso orçamento?"

_ "Fuck you" , disse o gentleman Milton Glaser antes de bater o telefone.

8.7.07

Maravilha



O nosso Cristo Redentor ficou na terceira posição no concurso das sete maravilhas do mundo, atrás apenas da Grande Muralha da China e das ruínas de Petra, na Jordânia.

Enquanto isso, lá embaixo, longe das nuvens do Corcovado...

6.7.07

Diário Gráfico no Recife





Após uma semana de intensas atividades no Recife estou de volta. Como dizem por lá, a oficina do Diário Gráfico foi MASSA!


36 pessoas trabalhando intensamente por 3 dias, espalhando-se para fora das instalações do centro de Design e invadindo o tablado da festa junina montada no pátio de São Pedro.

Diversas novidades foram incorporadas ao programa itinerante da oficina, dentre elas o sorteio dos 5 cadernos confeccionados a partir do material produzido por todos os participantes. Os cadernos vão rodar na mão de todos até chegarem aos seus respectivos donos (caso estes tenham sorte)

Tivemos no grupo profissionais de design e ilustração, professores, universitários e artistas plásticos. Até umas crianças se infiltraram na nossa oficina! Fiquei sabendo depois que os seguranças do pátio só não nos proibiram de trabalhar ali porque eu estava vestido com uma camisa onde se lia PREFEITURA. Na verdade, esta blusa laranja é o uniforme oficial da Comlurb do Rio, que eu uso como roupa de trabalho (ao invés de frescuras de avental).

No último dia de oficina, já caía a tarde quando chegávamos na fase final de costura dos cadernos. Um trio de artistas de teatro se maquiava enquanto lá fora o forró junino tocava no mais alto volume. Ninguém me arrastou pra tomar cachaça nem arrastar pé, o que é uma grande lástima em se tratando de São João em Pernambuco.

KABUM - Uma escola de sonhos



Além do trabalho realizado nos 3 dias no Centro de Design do Recife, tive a alegria de levar o Diário Gráfico também para a escola KABUM, um projeto social financiado pela OI com assessoria do designer Gringo Cardia, e totalmente voltado para jovens de baixa renda. O convite partiu do João Lin, editor da revista em quadrinhos Ragu e também a Domínio Público. É ele quem cuida dos assuntos de design gráfico na Kabum.
Em apenas uma manhã, projetamos no datashow 100 imagens, e logo depois partimos para o ataque com tintas, pincéis, stencils e latas de spray etc. Pintamos, colamos e imprimimos imagens sobre as folhas coloridas e depois as cortamos, dobramos, costuramos e finalmente fizemos um mega cadernão que vai passar de mão em mão até finalmente incorporar-se ao acervo da escola.


A Kabum é sensacional. Poucas vezes tive o privilégio de trabalhar em um local com estrutura tão privilegiada.

A Gente Boa do Recife (links de gente que faz!)

Em Recife existe o Centro de Design do Recife, dirigido pelo Raul Kawamura (que presidiu a Associação de Designers de Pernambuco até este mês), com o auxílio luxuoso de Renata Galvão e Flávia Lira. A associação de lá realiza o Salão de Design de Pernambuco, que edita um catálogo capa dura porreta. Recife é terra de gente que faz. Alô Rio, alô Brasil, acorda gente!

Divulgo aqui também um link para o flick do Damião, ilustrador, designer, cronista, e fotógrafo que vendeu a alma para a Lomo. Veja não somente as fotos da oficina que aconteceu no Centro de Formação em Artes Visuais, no Pátio de São Pedro, centro do Recife, mas principalmente as fotos do seu acervo pessoal.
http://www.flickr.com/photos/damiaosantana/sets/72157600556263873/
Sua mulher Fátima "Finizola, é designer e também a responsável pelas fantásticas criações "Toy art" que você pode ver em http://www.flickr.com/photos/fafilete/
Tivemos também a presença do Sebba, um dos editores da revista Boca, que trilha os passos experimentais da Rojo, revista de Barcelona. Vejam a Boca em http://www.overmundo.com.br/overblog/uma-revista-sem-palavras
O Sebba, além de ser o maior designer do Recife (2,02 m), é também percussionista da banda Negroove (que tem um bom nome!).
Tem muito mais gente boa por lá, basta chegar.

Calígrafos


O processo de levar meus cursos para outras cidades do Brasil sempre começa com a participação ativa de algumas pessoas-chave nestes locais. São eles que ficam responsáveis pela divulgação, convênios com universidades ou escolas, patrocínios, e finalmente formar um grupo de interessados nos cursos.

O convite para o Recife partiu do Matheus Barbosa, estudante de design, calígrafo (fã do meu cunhado Yomar Augusto cujo link está no título) e tipógrafo cearense porreta. Foi ele quem fechou o círculo com o pessoal do Centro de Design do Recife, que por sua vez abraçou a idéia. O Matheus me levou a um lugar muito especial em Olinda chamado "A Casa de Noca". Lá eu comi a melhor macaxeira com carne de sol de todo o sistema solar. Visitantes de Olinda: é fundamental conhecer a Casa de Noca!
Olinda é também a terra da minha querida colega ilustradora Rosinha Campos.

PS>: Matheus é esse cara aí fazendo lambança com a lata de tinta spray. O cara me contou que não usa cama pra dormir, só rede. Deve ter sangue caboclo!

São João no Agreste Pernambucano



Após 3 dias de trabalho nas oficinas, parti sem aperreios para o Agreste pernambucano para conhecer a famosa festa de São João. Antes de chegar a Caruaru, fiz uma parada básica e necessária no atelier de Cordel dos filhos do lendário J.Borges.


Lá comprei de J. Miguel e Ivan Borges diversas matrizes de xilo (sim, matrizes!) por 5 e 10 reais (veja na foto: sob as mãos dele estão as que eu trouxe comigo), e depois não resisti e fiz um lance na própria caixa de ferramentas do cordelista, todinha xilografada em grafismos de cordel. Agora meus tubinhos de aquarela têm casa nova.


Depois, já em Caruaru, fui conhecer o Alto do Moura, lugar auto-entitulado "O Maior Centro de Artes Figurativas das Américas" e também centro do artesanato em barro (veio de lá o Mestre Vitalino).
Lembrou-me o velho samba: "...e o Mestre Vitalino, molda em barro o destino do povo tão sofredor..."

Cuidado com os tubarões


Em Recife parece que todo mundo tem uma história de tubarão pra contar...
Na oficina do Diário Gráfico um cara me disse que perdeu um amigo devorado pelos tubas. Imagine a tristeza da mãe do pobre sujeito...
Peguei um taxi um outro dia e, enquanto trafegávamos em frente à praia de Boa Viagem, puxei o velho assunto com o piloto.
"Praia boa pra dar um mergulhinho, né irmão?"

Daí a concidência: o taxista me contou que era também surfista e, um dia sentadinho sossegado lá no outside, esperando a série entrar, sentiu a abocanhada no pé direito. Com vários chutes de canhota ele livrou-se do peixe e voltou remando para a areia com o pé todo esgarçaralhado.
Tive que inventar uma palavra para descrever um pé que precisou de 60 pontos para voltar a ser pé.

Então contei para ele dos 23 pontos que eu tenho na palma da mão direita (a que eu uso pra desenhar!) por causa de uma esporada de arraia, quando eu tinha 13 anos e começava a me aventurar na caça submarina. Bem, mas isso é outro causo.

"E então, você desistiu de surfar?", perguntei.
"Quem desiste de surfar é porque nunca surfou", ele respondeu.

Acho que já li isso em algum adesivo de surfwear.

Conserta-se gadgets de todos os tipos



O tiozinho gente fina aí montou uma oficina de gadgets eletrônicos em plena feira no Recife.

Quem resiste à maresia?


Em frente à praia de Boa Viagem um sujeito montou a melhor estratégia de marketing para vender cofres ultra resistentes à maresia.
Em geral quando o cara se muda para um apartamento perto da praia acha que chegou ao topo da cadeia alimentar. "Agora estou morando bem", gabam-se.
Tenho um amigo que mudou-se hà pouco para Ipanema, a apenas dois quarteirões do posto 9.
O vento salgado que circula em seu apartamento já ferrou com os eletrodomésticos e, recentemente, queimou a placa-mãe do seu PC.

Um outro tempo, nem passado, nem presente, nem futuro


Ir a Recife e não visitar o universo de Francisco Brennand é o mesmo que ir a Florença e não ver nada do Michelangelo.
Olhem bem, não vou nem entrar na besteira de "guardar as devidas proporções". Considero-o o mais genial artista brasileiro vivo.
Lá em Minas Gerais conversei sobre isso com o Lourenço Mutarelli durante a FIQ de 2007 (a que trouxe o Gary Panter) e ele concordou de imediato. Então se a minha opinião não vale nada, considere a daquele que é um dos mais originais quadrinistas brasileiros.
Quem pensa que Brennand é somente o exótico personagem de barbas brancas afeito à esculturas cerâmicas de formas fálicas, revela-se um completo desconhecedor do mínimo sobre sua obra.
É nos desenhos e pinturas que Brennand se mostra um artista excepcional. Tenho aqui um livro com seus desenhos e nele há uma série de trabalhos maravilhosos onde ele criou novas composições sobre desenhos muitos antigos, deixando vestígios do original transparecerem sobre as novas camadas. Não deixe de ver estes trabalhos.
Pois então, aproveitando a viagem ao Recife voltei lá na Cerâmica Brennand para visitar sua "menagerie" de criaturas. Foi Rosa, minha mulher, que bem definiu aquilo que vimos:
"Aqui tem-se a sensação de estar em outro tempo, nem passado, nem presente, nem futuro. Talvez todos estes tempos de uma vez só e ainda por cima em outro planeta."

Quantos gênios você já encontrou na vida?

Para alguns essa pode ser a medida de quantos encontros especiais a vida lhe concedeu.
Pessoas geniais e gênios são para mim tipos distintos.

Os primeiros têm a seu favor aquela inquietação criativa (chamem isso de curiosidade produtiva), e também a frequência com que acertam o alvo de suas idéias, objetivos, concepções. Há neles uma humanidade quase igual à da maioria das pessoas, porém diferenciam-se pelo talento e aptidões singulares, ambos lapidados com afinco ao longo de suas vidas. Pessoas geniais são resultado de um certo esforço pessoal, acredito.

Já os gênios guardam todas as características anteriores e um pouco além. Por mais pé no chão que sejam, por mais que transitem no nosso plano de efemeridades, possuem uma irradiação diferente, uma cabeça e um coração estelar, como se houvesse uma centelha a dar cor diferente às suas almas.
É preciso estar na presenca do gênio para reconhecê-lo.
Estas definições são minhas, e perdoem as pretensões literárias. Até hoje só conheci dois gênios e, portanto, não tenho muita experiência para descrever o tipo.

Encontro com Francisco Brennand



Francisco Brennand, ceramista, pintor e desenhista é um desses gênios que descrevi antes. Conheci-o em 2005 quando participei do juri do Festival de Humor e Histórias em Quadrinhos do Recife.



Foi assim:
O festival disponibilizou uma van para levar todos os artistas (brasileiros e gringos) para conhecer as coisas boas do Recife, dentre elas, logicamente, a cerâmica Brennand (da qual eu, ignorante, nunca ouvira falar). A motorista da van era uma pessoa do tipo "despachada" (como dizemos aqui no Rio), e me disse que poderia tentar achar o recluso artista e trazê-lo para vir falar conosco.

Quando Brennand chegou e apresentou-se, expliquei à ele que éramos um grupo de artistas gráficos, e que trabalhávamos para o suporte da página impressa, jornais, revistas e livros. Emendamos então numa breve conversa introdutória sobre arte , desenho, suportes efêmeros como o papel e eternos como a cerâmica. Estaria ali na questão da durabilidade do suporte o cerne da hierarquia nas artes visuais? Ele dizia uma ou outra palavra em francês para o Jano, e eu traduzia tudo para o inglês para os outros convidados.



Perguntei-lhe sobre o significado daquele cenário surreal de colunas, formas curvilíneas, relevos e esculturas eróticas, e aqueles animais no mínimo curiosos.
Brennand contou que o conjunto nascera dos escombros da antiga fábrica de telhas de sua família. Após alguns anos morando na França ele retornou ao Brasil em 1971 para encontrar ali o velho galpão de 1917 em destroços. Pediu então aos funcionários que limpassem a área dos escombros e de lá restavam de pé somente as fortes colunas de tijolos maçiços. Visualizou naquelas colunas os pedestais para esculturas que serviriam de guardiões para um "templo profano" onde se celebrariam os mitos de criação. Logo tratou de povoar aquele espaço com figuras cerâmicas que simbolizassem a vida, a fecundidade, a transformação, o mistério. São falos, vaginas, ovos, sapos, aves, placas com frases de filósofos, espelhos dágua e toda uma fantasmagoria pessoal.



Eu ia traduzindo sua fala para os gringos à medida em que caminhávamos. O velho contou que aquele imaginário nada tinha de erótico, como diziam as màs línguas a seu respeito. "Para falar da vida, é preciso sobretudo falar do sexo, da reprodução", explicou.

Ao passar sob uma abóbada de onde pendia um fio em cuja extremidade havia um ovo suspenso, notei que os convidados estrangeiros do festival já haviam se dispersado, atraídos pelas curiosas esculturas expostas em um galpão à esquerda. O velho Brennand prosseguia sua explanação e ao notar que eu era o único que restara, convidou-me para caminhar até a Accademia, a galeria que abriga suas pinturas e desenhos. Durante todo o percurso dei-me conta do acaso que havia me trazido até aquele momento. Aquela era uma aula master tête-a-tête com Francisco Brennand.

Na Accademia, cada obra inspirava um causo, adornado pela voz literata que brotava das longas barbas brancas do artista.
Ao ver uma das pinturas, comentei que havia ali uma semelhança com o universo de Balthus. Vi a surpresa estampar-se no rosto de Brennand.
"Ah rapaz, agora você bateu em uma porta certa!"
O velho pôs-se então a exaltar Balthus, e contou sobre os anos em que viveu Paris e o conheceu. Nesta época, teve a oportunidade de conhecer outros artistas importantes também.
Em Paris, Brennand era amigo de um jovem mexicano, incumbido pelo pai milionário de comprar a obra de "qualquer pintor famoso", a título de investimento. Assim os dois jovens latinos foram parar no ateliê de Braque. O rapaz mexicano adquiriu duas obras do cubista.

Fiquei fascinado com a série de trabalhos sobre Chapeuzinho Vermelho e também com os pastéis onde Brennand retrabalhou desenhos antigos de peixes, criando retratos de pessoas zoomórficas.
Aquele foi um encontro com um gênio, e eu jamais vou me esquecer.