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Vi com meus próprios olhos um evento que dividiu a história contemporânea entre o antes e o depois.
Esta é para mim a definição mais sucinta do que foi o 11 de setembro.
Às 10 pras 9 da manhã, um telefonema do Brasil pediu que eu ligasse a TV imediatamente.
Lembro-me que, ao ver aquele imenso buraco a arder em chamas, os primeiros pensamentos que me vieram à cabeça foram:
"Bombeiro nenhum vai conseguir apagar essa fornalha...só um tolo pode crer que um avião bateu ali por acidente"
Então 13 minutos depois minhas suspeitas se confirmaram: um outro avião abocanhava vorazmente a estrutura da segunda torre.
Estavam abertos os portais do apocalipse.
Acompanhei tudo pela minha pequena TV durante exatos 56 minutos, quando então a tela encheu-se de chuviscos, deixando-me apenas um confuso sinal de áudio. Ainda assim pude compreender sob a camada de ruídos o locutor de TV dizendo:
"The south tower is gone!"
Antenas de TV estavam situadas exatamente no topo do prédio que havia caído. Por isso meu aparelho não podia mais mostrar o que acontecia a apenas alguns quilômetros de onde eu estava.
Telefonei para o meu vizinho Steff, que morava no décimo quinto andar e tinha uma vista privilegiada da ponta sul de Manhattan.
"Steff, minha TV perdeu o sinal, mas eu acho que ouvi falarem que a torre caiu...você consegue ver alguma coisa?"
"Sim, tudo. Venha para cá logo pois a torre que restou não parece que vai se segurar por muito tempo"
Da janela do apartamento do Steff, eu podia acompanhar o desdobramento dos eventos com meus próprios olhos. Ainda assim olhava a todo momento para a enorme TV, cuja imagem provida por cabo me permitia uma visão perfeita do inferno que habitava aquela imensa nuvem de pó que havia engolfado a ponta de Manhattan.
Para crer no que via acontecer da janela eu precisava olhar a todo momento para a TV. Que ironia.
No dia seguinte a cidade era um deserto. Mas pouco a pouco as pessoas começaram a se reunir na praça Union Square, que logo se tornou um verdadeiro santuário de orações, choro, ranger de dentes e catarse coletiva. Artistas trouxeram papéis, canetas e tintas, e quem ali chegava tratava de deixar registrado seu manifesto, oração, ou desenho.
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Haviam muitas crianças e também monges budistas, tocadores de gaitas de fole (que som triste e belo tem aquele instrumento), velhos e jovens, e também uma estranha energia no ar, algo que quase se podia pegar com a mão.
Fiz alguns desenhos na Union Square naquele dia. Mas tanto os desenhos quantos as fotos registraram apenas uma pálida idéia do que aconteceu ali.
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