12.2.08
Shibui
Aproveitei meu período de Momo para colocar alguns trabalhos, fome cinéfila e leituras em dia. O ano no Brasil começa depois do Carnaval, todos sabemos.
No domingo após a quarta-feira de cinzas levei-me para passear e arejar as idéias sob a sombra dos bambuzais do Jardim Botânico do Rio. Ali pude finalmente concluir a leitura de Kind of Blue, presente dado por dois alunos-amigos de muito bom gosto.
Era uma tarde quente e preguiçosa. Daquelas que se transformam em tempestade quando o sol começa a se esconder atrás das montanhas da Gávea. Há duzentos anos este parque é testemunha destes eventos.
Entretido com a leitura, vez por outra distraía-me com as texturas que a luz filtrada pelas hastes de bambu imprimiam sobre as palavras. Três saguis se acercaram e lá ficaram a me fitar à distância de um braço (ganharam pão de queijo pela gentileza da visita). Zumbidos e cantos de pássaros faziam companhia às histórias do livro e juntos formavam uma trilha sonora única na minha cabeça. Anestesiado, deixei-me até servir de pasto para os mosquitos.
Aquela tarde não teria sido nada demais, não fosse eu uma pessoa que raramente se entrega a estas indulgências. Poucas vezes dei tanto valor ao ócio criativo.
Cheguei ao final de Kind of Blue e encontrei um belo parágrafo que reproduzo aqui:
"Quando a beleza atinge grande sutileza os japoneses chamam o efeito de "shibui", ou elegância contida. O termo "shibui" não encontra um equivalente fácil na língua portuguesa, mas uma rápida pesquisa revela que ele significa mais do que mera sutileza ou elegância. É mais um efeito do que um atributo e refere-se não a uma tela ou a uma canção, mas ao ato da apreciação em si.
Quando o talento artístico da mais elevada ordem cria uma obra que atinge um equilíbrio ilimitado entre opostos, unindo perfeitamente o yin da emoção e o yang da racionalidade, evoca-se o shibui, reconhecível pela forte reação emocional que suscita. Há melancolia em sua sugestão de impermanência, serenidade em sua profunda reserva e simplicidade."
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2 comentários:
Vou vir sempre te fuxicar, tá? Beijos da Tisa.
é bom se entregar a esses momentos... e o q eu chamo de espiar pra dentro.
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