8.10.07
Perdeu playboy!
8 de outubro de 2007.
Saiu hoje na Folha de São Paulo um artigo de Ferréz, nome literário de Reginaldo Ferreira da Silva, 28 anos. Ele escreveu ‘Capão Pecado‘ (Labortexto, 2000), um romance sobre o cotidiano violento do bairro do Capão Redondo, na periferia de São Paulo, onde vive. É de autoria dele também o ‘Manual Prático do Ódio‘ publicado pela Objetiva".
O seu artigo na Folha de São Paulo foi uma réplica ao que foi escrito na semana anterior por Luciano Huck, vítima recente de um assalto no trânsito, onde os motoqueiros levaram seu "Rolecão". Não li o artigo do Huck, porém a mídia (ah a mídia...) deu grande destaque à frase "chamem o Capitão Nascimento", que consta lá em algum parágrafo.
Ferrez escreveu diferente a sua versão. Fez uma breve crônica do cotidiano, com um ritmo sincopado de um hip hop, meio reportagem, meio "a vida como ela é". E eu curto muito esse tipo de abordagem literária.
" A hora estava se aproximando, tinha um braço ali vacilando. Se perguntava
como alguém pode usar no braço, algo que dá pra comprar várias casas na sua
quebrada. Quantas pessoas que conheceu, trabalharam a vida inteira, sendo
babá de meninos mimados, fazendo a comida deles, cuidando da segurança e
limpeza deles e no final ficaram velhas, morreram, e nunca puderam fazer o
mesmo por seus filhos.
O escritor do Capão Redondo finaliza o artigo assim:
"No final das contas todos saíram ganhando, o assaltado ficou com o que tinha
de mais valioso que é sua vida, e o correria ficou com o relógio.
Não vejo motivo pra reclamação, afinal num mundo indefensável até que o rolo
foi justo para ambas as partes."
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3 comentários:
Uma vez, fui ao enterro da mãe de um grande amigo aqui de Vitória.
Ela morava num bairro de periferia, teve um enfarto e faleceu ao lado do filho (esse meu amigo).
Compartilhar dessa dor junto com ele, foi um momento que me trouxe muita reflexão.
Uma senhora pobre, negra e muito querida no bairro.
Daí fiquei pensando como no texto do Ferréz, onde pessoas pobres trabalham até a morte pra viver no mínimo possível, fazendo sempre para que os patrões tenham o máximo desejável.
Espero que a vida após a morte (se realmente existir), seja mais justa para a mãe desse meu amigo...porque nessa altura do campeonato, o Luciano Huck já deve estar de Rolex novo.
Abração Alarcão!
Cara, outro dia mesmo eu estava aqui em casa conversando com a Ale sobre isso. E cheguei à conclusão de que boa parte da classe média vê os favelados mais ou menos como os nazistas viam os judeus. Esse discurso prende-tortura-mata-fuzila-arrebenta só se justifica quando você não reconhece o outro como ser humano. Ou seja: favelado não é gente. Mais ou menos a postura dos brancos em relação aos índios e aos negros na época da colonização (e depois).
não concordo com o ferrez. se a pessoa trabalha honestamente a vida inteira, paga seus impostos (sei lá eu se esse é o caso do luciano huck) não pode comprar um rolex? cadê a liberdade pessoal?
acho muito errada essa idéia de justificar o crime.
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