16.1.07

Revista Graphic II


Tenho colecionado as grafias erradas do meu nome. Já vi Alarcacao, Alcaro, Alarco e desta vez, colocaram um acento que dá um ar tcheco ao meu sobrenome. Gostei.
Esta página é do último sketchbook que completei antes de voltar a morar no Brasil. Lá pelos idos de 2002.
Diz o seguinte:
"Pela internet leio notícias do Rio. A cidade está refém da bandidagem. Em uma semana 50 ônibus foram incendiados. Gente comum tem perdido a vida por nenhum motivo. Faltam menos de 3 semanas para a volta e não sentimos nenhuma empolgação. Queria ao menos algumas certezas...
Ida e volta trazem consigo emoções díspares. Quando vim, o encontro com o desconhecido despertava alegres borboletas em meu estômago. Tudo apontava para o crescimento e evolução. A volta traz um outro tipo de novidade: o encontro com uma realidade que, embora conhecida, se apresenta de cara nova. Um notável agravamento do fosso social, das diferenças e da violência urbana. Tudo isso ampliado pelas novas lentes que minha percepção conquistou: o olhar de fora.
Apesar de tudo, quando elevo meus pensamentos, lembro-me das pessoas queridas que vou reencontrar, caras conhecidas e ainda não-conhecidas, e penso ainda nos que já morreram mas que, com certeza, são parte importante da minha memória afetiva.'

A foto é do Zé Pequeno, do filme "Cidade de Deus". Fui assisti-lo com uns amigos gringos, que adoraram, mas na saída me pediram desculpas por terem decidido não mais virem me visitar no Rio.

2 comentários:

Gabriela Irigoyen disse...

Nem tinha reparado no erro de grafia do seu nome até ler este post!
Realmente viver nesta cidade está cada vez mais difícil, quando penso em ter filhos fico com medo que eles cresçam no meio de tanto medo e violência.E ao mesmo tempo o Rio é essa cidade linda, com praia, morro e floresta...Como é que deixaram a cidade ficar assim?

Alarcão disse...

Sabe, eu tenho que concordar com aquela delegada da polícia Civil que acabou de se eleger deputada federal. Ela disse que é um equívoco falar em "crime organizado" no Rio. O que existe de fato é o "crime desorganizado", ou seja, um mnte de moleques de 17, 20, 21 anos, banguelas, viciados em pó, cordões de ouro e roupas de marca, e que estão matando-se uns aos outros, exercendo aquele gesto primal de demarcar território. Antigamente os mega traficantes cariocas, tinham uma postura empresarial, frotas de aviões, parcerias de negócios, e sabiam negociar com os reis da coca hablando en espanhol. Hoje estes delinquentes super armados mal conseguem articular uma frase completa, seja por não terem frequentarem a escola, seja por estarem trincados de pó.