
Mais do que um caderno de viagens ou local de registros visuais sobre o cotidiano, o diário gráfico é um suporte que propõe uma ilimitada liberdade de expressão, experimentação e descobertas.
Embora eu goste bastante de desenhar - e o faça constantemente - tenho usado os meus cadernos para fazer outro tipo de trabalho. No momento interessam-me aquelas experimentações visuais onde combino fotografias com colagens, faço “transferências” com solvente, deixo umas coisas escritas e também brinco com os velhos conhecidos lápis, pincel, aquarela, caneta, tinta.
Essa pesquisa pessoal começou para mim com os cadernos do Dan Eldon, e depois fui levado por correntezas naturais a conhecer o trabalho do fotógrafo Peter Beard (clique aí no título para conferir)) . Valeu muito a pena ter topado com o trabalho dos dois no meu caminho.
Percebo hoje um ressurgimento da tradição dos diários gráficos, com muitos jovens artistas de caderno à mão, todos registrando suas impressões do mundo mas cada qual à sua maneira peculiar. Nas páginas destes cadernos fica o registro do que a memória pode esmaecer. Estão lá os fragmentos do cotidiano, notas, recortes de jornais e revistas, combinações de fotos com texto, tickets de cinema e metrô, selos antigos. Memória, tempo, caldeirão de ideias.
Digo sempre que para o artista visual (ou qualquer indivíduo criativo), é uma boa idéia desenvolver o quanto antes o hábito de manter um sketchbook so alcance da mão e a todo momento. Lembre-se que tempo é um dos pilares desta prática. Tempo para ficar diante do caderno.
E aqui fica uma dica para aqueles que se guardam e se tolhem, para os que hesitam e os que pensam muito antes de tocar o papel, os que aguardam poder apenas registrar a exatidão de suas obras primas pessoais, as manifestações imaculadamente corretas.
Nas páginas do Diário Gráfico o papel vai guardar com a mesma generosidade o traço nascido da intuição e também o da observação. A mancha e o gesto, o acaso e os “acidentes felizes”. No caderno, páginas distantes podem se conectar peças distintas, todas pertencentes à uma mesma ideia.
Não há ali lugar para o bonito nem o feio, nem para o certo ou o errado.
O entusiasmo com esta pesquisa visual nos cadernos levou-me a elaborar um curso onde proponho uma vivência intensiva no universo dos cadernos de ideias.
Ao longo dos ultimos 10 anos tenho viajado com o Diário Gráfico pelo Brasil, indo a cidades de norte a sul do país. O curso têm sido para mim muito mais do que uma ferramenta de trabalho mas uma sólida ponte para propiciar o encontro e a troca de ideias entre pessoas criativas.