13.3.09

A guerra segundo Dali



Tenho algumas estratégias para identificar uma pessoa cafona. Se ela possui na parede da sala um quadro com cavalos, este é um sinal infalível. Gostar de Dali é outro deslize para o terreno viscoso e multicolorido da breguice.

Nunca encontrei exceções a estas duas regrinhas básicas.

Para mim Dali reunia em si qualidades também de fanfarrão e boçal. Prova disso são os depoimentos e frases que soltou ao léu. Era mesmo um sujeito que deveria ter conhecido o filósofo Romário e com ele ter aprendido a colocar um sapato na boca toda vez que se sentisse tentado a dar um depoimento.

Em 1971 Dali proferiu a pérola abaixo, num sinal inequívoco de que, além dos bigodes de bagre, possuía os miolos e também a boca enorme daquele horroroso peixe.

Entrevistador: Atualmente o senhor é a única pessoa no mundo a favor da guerra do Vietnã...

Dali, o bagre, responde: Eu não sou somente a favor da guerra do Vietnã, mas a favor de todas as guerras. A guerra é uma empresa saudável, gloriosa. Faz com que os homens sonhem, traz à tona paixões recalcadas, é uma época de esperanças e grandes ilusões. Com isso, com sua intensidade, faz com que a arte, a ciência e as idéias se desenvolvam. Do ponto de vista erótico, as guerras desencadeiam impulsos reprimidos e estimulam a sensibilidade das pessoas, e, veja, se houvesse paz o tempo inteiro, nós seríamos vítimas de uma mortal monotonia.

21 comentários:

SPACCA É... disse...

o Nietsche tinha uma visão meio parecida. Deve ser algum problema com bigode. abs
spacca

Unknown disse...

Sempre tocou um alarmezinho quando ouvia falar no Dali. Não sei se sexto sentido ou sétimo. Que seja.
Depois das aulas de história da arte da faculdade, esse alarme passou a fazer mais sentido e acabou sendo explicado e confirmado.

elcerdo disse...

Mas num ponto ele tem razão, as guerras levaram a uma grande evolução da medicina.
Com a 2 Guerra por exemplo, teve avanços em diversas áreas.
É uma triste realidade, a tecnologia a disposição da destruição.

Anônimo disse...

Bem...Dali foi, acima de tudo, um humorista. Escreveu também pérolas como o famigerado "Tratado do Peido", onde desfila sua criatividade inegável para descrever todas as variações sobre o flatulento tema. Como todo humorista, sua comicidade encobre um tanto de melancolia. Sua anarquia, quando declara sandices assim ou cria surrealismos kitch, é puro fetiche. A gente não deve levar um piada tão a sério. Só o tanto que serve para provocar o riso. Quadros com cavalos são quase sempre engraçadíssimos, embora eles sejam lindos ao vivo. Jasper Johns vai nessa linha também. É um pop humorista. Tem ótimas sacadas, embora eu ache horrendos seus trabalhos. Já as ilustras do Dali para livros são deslumbrantes...

Eduardo disse...

Fala Alarca!

Já li sobre o Dali ser impotente, o que explicaria muita coisa. Esse gene da breguice eu tenho (risos) tem muita coisa dele que eu curto. Eu só tomo cuidado com esse lance da “dimensão moral” do artista e do atleta. O Dali é o avô da celebridade contemporânea, talvez… “ser a favor” da guerra é meio demais. Mas, ele fala francamente do fascínio mórbido inegável que nutre o ser humano. Afinal, pobres e ricos paravam pra ver as capas do Povo, execrável ou não, é um sentimento que lá está e artista não deve ter tantos pudores. Acho o cara fanfarrão também e mais para bagre do que para gente ehehehe, mas aquele quadro da crucificação é foda =)

Laís Brevilheri disse...

E, bem bem bem, todos sabem o pretencioso quwe ele era, capaz de frases do tipo "Pelo que Brugnera produziu depois de O cão andaluz dá pra ter certeza de quem era o gênio ali". De qualquer forma, ele foi um ótimo assunto para fotografias.

Jocelino Neto disse...

Neste estágio de evolução o qual lentamente estamos perpassando, dali, irônicamente, cospe a realidade.

Anônimo disse...

Ótimo post.

Dali, como muitos outros artistas, não primava pelas formas convencionais de linguagem, não se importava em parecer um literato. Em português claro, falava muita merda.

Para estes muitos artistas, jogadores de futebol, apresentadoras, modelos e manequins, o mais imporante sempre foi "causar".

Salvador Dali, Vicente Matheus, Carla Peres, Lula e cia. poderiam ter aproveitado grandes oportunidades de ficarem calados, mas preferiram vestir o personagem e serem lembrados não tanto pelo que foram, mas pelo que disseram.

A humanidade poderia parecer menos idiota sem suas frases, mas talvez se tornasse mais morna, meio sem graça.

Talvez a idiotice das celebridades sirva para alguma coisa, mesmo que seja para a gente ter uma noção mais clara a respeito dos valores, tanto os deles como os nossos.

Anônimo disse...

Talvez haja uma exceção: os cavalos da Susan Rothenberg.

samanta disse...

eu acho que ele não se levava à sério. o que é uma qualidade que admiro muito. mas não em personalidades, claro. porque elas enfluenciam e são levadas à sério. enfim. eu gosto de alguns trabalhos do dali. mas dos surrealistas magrite sempre foi mais interessante pra mim.

Anônimo disse...

Quando a 2ª Guerra Mundial começou na Europa, Dali fugiu para os Estados Unidos.
Só quem nunca foi à guerra pode se dar ao luxo de romantizá-la.

Paulo Crumbim disse...

bom saber que mais pessoas fora eu tbm acham brega....kkk

Alarcão disse...

Descobri o segredo para manter o blog movimentado e enchê-lo de comentários ilustres: fazer churrasco com as vacas sagradas da arte.

Hum...quem será a próxima vítima?

Falar mal do Abaporu seria interessante...

Unknown disse...

aqueles relógios derretendo são de doer...

Anônimo disse...

Abaporu o Monteiro Lobato já detonou, não vale.

Quanto ao Dali, acho que é um pouco mais do que ser piada ou inconsequência. Talvez ele tenha sido quem mais levou a sério a ideia de fazer da vida uma obra. Foi personagem de si mesmo.

Rafael Ventura disse...

Bom, dá pra falar muita coisa do Picasso, também. Ou do Miró. E te garanto que vai movimentar ainda mais!

Alarcão disse...

Claro que dá pra falar do Picasso. Ele é maravilhoso!
O Miró? Espetacular! E o Dali, brega.

marcelo martinez disse...

concordo com o Negro. Não é para levar tããão a sério.

A intenção ali era chocar mesmo. Faz parte da persona criada por ele.

Anônimo disse...

Dali ria de tudo, não existia uma barreira entre o real e o surreal. Ele era uma coisa só. Triste e brega é quem não percebe isso e leva tudo a sério. 'Celebridade tem que dar exemplo', isso sim é brega!

Emerson Lopes disse...

Não conheço o suficiente como foi o Dali como pessoa para admirá-lo ou não. Mas gosto muito de sua obra, seja considerada brega...ou não.

Quanto a frase...não teria ele sido irônico? Caso não tenha sido, até entendo o pensamento por trás da frase, apesar de não concordar.

Anônimo disse...

Ora veja, um anônimo querendo ditar o corolário universal da breguice. Deve ser um admirador do Dali. Ou então tem na parede da sua sala uma pintura de um pônei a cavalgar na areia da praia.
Huashuahshua...