Folha de São Paulo - 29 de Dezembro 2008
Mais um artigo sobre o meio ambiente chegou as minhas mãos, mais uma ilustração para falar do óbvio ululante: algo está profundamente errado na forma como lidamos com o planeta.
Sempre penso que estes 150 anos decorridos desde o início da revolução industrial representam apenas um piscar de olhos de uma montanha, ou o tempo para uma barreira de corais crescer apenas uns poucos centímetros. E nesse tão curto tempo, quanta coisa nós, primatas pensantes e com dedos em pinça, realizamos! Foram máquinas, cidades, estradas, substâncias químicas para o bem e para o mal, armas... Industrializamos também a produção dos nossos alimentos, domamos o átomo, inventamos supercomputadores e a internet, reproduzimo-nos como porquinhos da Índia e, em meio a ilhas de prosperidade, criamos continentes de miséria.
Pelo caminho deixamos muita, muita sujeira. Sujeira real e metafórica.
A sociedade humana atribuiu a alguns de seus indivíduos a tarefa de cuidar de assuntos importantes como o destino do lixo, do esgoto e da fumaça que produzimos. E eles optaram pelas soluções mais fáceis e baratas: joga-se no mar, despeja-se a céu aberto, enterra-se, empacota-se e esconde-se da vista (pois o que não se vê, o coração não sente).
Dizem por aí que uma nova consciência está emergindo. Sim, é possível que existam alguns beija-flores carregando água no bico para ajudar a apagar o incêndio da floresta.
Acredito que consciência sem ação é como rezar mil padre-nossos achando que assim salvam-se mil almas no purgatório. É como aqueles insuportáveis livros de sociologia que, em sua masturbação verborrágica, só analisam e apontam os problemas, sem sugerir linhas de ação para solucioná-los.
De nada vale pensamento sem ação!
Fim de ano é sempre um momento em que a maioria das pessoas deixa para plantar suas sementes de otimismo, imaginar grandes metas, projetar novas conquistas. De minha parte desejo apenas que mais e mais pessoas tomem consciência de que somos parte de um único organismo, uma grande esfera cujo equilíbrio é frágil. Desejo principalmente que saibamos transformar essa consciência em ação.
Deixo vocês, meus nobilíssimos e raros leitores, algumas frases boas que encontrei pelo caminho esta semana ao pesquisar o tema deste desenho.
Tenhamos todos um 2009 de muitas realizações positivas, saúde e paz.
Até breve!
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"A Natureza fornece almoço grátis, mas apenas se nós controlarmos o nosso apetite."
--William Ruckelshaus, Business Week, 18 Junho 1990
"Porque não pensamos nas gerações futuras, eles nunca nos esquecerão."
--Henrik Tikkanen
"Eu acho que o meio ambiente deveria ser colocado na categoria de segurança nacional. Defender nossos recursos é tão importante quanto defender nossas fronteiras. Caso contrário, o que existe para defender?"
--Robert Redford, Yosemite National Park, 1985
"Nunca sabemos o valor da água até que a fonte esteja seca."
--Thomas Fuller, 1732
"Nós não herdamos a Terra de nossos antecessores, nós a pegamos emprestada de nossas crianças."
--Provérbio Nativo Americano
"Eles matam as boas árvores para produzir jornal ruim."
--James G. Watt, citado na Newsweek, 8 Março 1982
"O uso da energia solar não decolou porque a indústria do petróleo não possui o sol."
--Ralph Nader, citado em Linda Botts, ed., Loose Talk, 1980
"Avanço econômico não é a mesma coisa que progresso humano."
--John Clapham, A Concise Economic History of Britain, 1957
"O problema não é mais que com cada par de mãos que vem ao mundo vem um estômago faminto. Particularmente é que junto com as mãos vêm cotovelos afiados."
--Paul A. Samuelson, Newsweek, 12 June 1967
"Por 200 anos temos conquistado a Natureza. Agora a estamos espancando até a morte."
--Tom McMillan, quoted in Francesca Lyman, The Greenhouse Trap, 1990
"Quando curarmos a terra, curaremos a nós mesmos."
--David Orr
31.12.08
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2 comentários:
Perfeito, Alarcão. Esse é um assunto que me preocupa demais. Meus trabalhos inclusive quase sempre giram em torno disso. Então, o negócio é agir. Dinamismo em 2009, é o que desejo para gente! Abraço grande!
Otima ilustração!
Esse esse tema é crucial, nós temos fechado os olohs pra isso e estamos cavando a nossa propria cova.
Ontem foi homem contra homem, hoje é o homem contra natureza.
Laurêncio Luciano
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