20.6.08

2012



Quem convive comigo volta e meia me ouve falar:

"Nem adianta espernear, de 2012 a espécie humana não passa!"

O jeito sarcástico, histriônico faz com que minhas palavras soem como ironia. É da minha personalidade ser gaiato, mas... desta vez ando mesmo preocupado.

2012 é o ano em que termina o calendário maia, aquele que -dizem - erra um segundo a cada 5000 anos.

O protocolo de Kyoto - aquele que fracassou na tentativa de controlar as emissões de CO2 - termina sua vigência em 2012.

Contaram-me também a respeito de um asteróide que está a caminho da nossa esfera azul. Uma ou outra revista científica informou em matérias minúsculas que os cálculos atestam que a montanha que vem do espaço está mesmo com dia e hora certa para uma visita à Terra: 2012. Será que evitam falar nisso mais abertamente para evitar pânico?

Recentemente a NASA juntou-se com o exército americano fez uma simulação de tiro em um satélite obsoleto que estava saindo ligeiramente da órbita e portanto perigava cair por aqui. Deu uma notinha no jornal. Fico aqui a matutar se aquilo foi um treinozinho de tiro ao alvo espacial.

Mas se houvesse mesmo um asteróide vindo em nossa direção, quem você acha que ficaria encarregado de explodi-lo? Os chineses? Os russos? os europeus?

O que mais é dito por aí sobre 2012?

Hum...2012 é também o ano quando se passa a história daquele filme absolutamente ruim chamado "Eu sou a lenda...".
Agora é melhor mudar de assunto.

Estava no taxi em São Paulo e, enquanto trafegávamos na marginal Tietê comentei com o taxista:

"É incrível pensar que há uns 60 anos atrás se realizavam competições de natação e remo nesse rio..."

"É patrão... o pior é que igual a este aí existem hoje mais de mil pelo mundo afora"

"Você já ouviu um papo de que o mundo vai acabar em 2012?", perguntei curioso, só para ouvir o que ele teria a dizer.

"Ihh patrão, esse negócio de mundo acabar vem desde o tempo de Nostradamus. Não rolava aí um papo de que ia acabar no ano 2000 e tal? Mas não aconteceu nada! Veja só nós aqui na praça, na batalha..."

"É meu caro, mas o que é um erro de 12 anos numa profecia? Não é nada! 12 anos é um centésimo de segundo na vida de uma montanha"

O taxista emudeceu por quase um minuto. Depois assentiu com a cabeça.

"O senhor tá certo. 12 anos não é nada mesmo. Perdi meu emprego de diretor de arte numa agência de publicidade já faz 12 anos".

Taxistas têm uma sabedoria peculiar. Passam muito tempo lendo jornais e ouvindo rádio enquanto a fila do ponto não anda.

Mas...mudando de assunto...

No bairro da Liberdade, almoçava com um amigo e em nossa mesa havia duas cumbucas de missoshiro, aquela deliciosa sopa de soja. Já viram como ela decanta rápido? Chega a ficar transparente em cima, a nuvem cremosa por baixo.

Em um momento vi-me com os olhos fixos na sopa, os palitos equilibrando o califórnia no ar quando, repentinamente, o meu amigo interrompeu meu devaneio:

"O que houve cara? Viu olhinhos submergindo na sua sopa?"

"Não. Vi o oceano, todos os oceanos do mundo", respondi com os olhos ainda vidrados na cumbuca.

"Ihhhh...então é grave"

E continuei:

"Cara você já pensou nisso? Todos os rios imundos do planeta carregam a nossa porqueira ladeira abaixo...eles inevitavelmente desembocam no mar. Já pensou como os oceanos devem estar? Já pensou que, embora eles nos pareçam límpidos e saudáveis na superfície, ou então nos seus primeiros duzentos metros, há uma possibilidade concreta deles estarem como esta tigela de missô?

"É verdade..."

"E os peixes? Peixe não é igual vaca ou galinha, que nasce e cresce confinado, come ração, tem veterinário, toma vacina... Peixe é um bicho selvagem, fica a nadar pra tudo que é canto, come o que passar pelo caminho..."

"É mesmo...podicrê..."

"Em geral quem compra peixe olha as guelras, vê se o olho está brilhante, dá uma cafungada e tal, e pronto, atesta que está fresco, leva pra casa e come, certo?"

"Claro, eu mesmo faço isso. Adoro peixe!"

"Mas quem, qual órgão de saúde pública, quem se dá ao trabalho de analisar a carne do bicho REGULARMENTE e a nível celular? Quem se dá ao trabalho de checar se tem ali alguma toxina, dessas que estão diluídas por aí pelos oceanos afora?"

"Cara, come o teu sushi que ele está caindo do palito"

Mudamos de assunto.

Eu tenho andado assim,... minha alma parecida com aquela cumbuca de sopa de soja, cristalina na superfície, mas embotada nos níveis mais profundos...

Sinto que este processo começou depois desse filme aqui.

Hoje desci um degrau a mais nesta sensação. Foi depois de ver este filme
aqui.

A primeira lâmina fez tcham, a segunda fez tchum.

Essa aqui fez tcham, tcham, tchaaaam!

Então boa sorte para nós. E que mantenhamos nossa sanidade até o final, mesmo que ele se demore a vir.

7 comentários:

Anônimo disse...

Oi Alarcão,
Aqui é o Augusto de BH, tem um tempo que não escrevo, mas sempre leio seu blog. Quando você escreve sobre algo assim, eu tenho que comentar. O ser humano é estranho mesmo. Já notou que é só você dar um pouquinho de poder pra ele, que ele começa a pisar nos outros. A destruição do planeta é grave, mas a maioria das pessoas não se importa. É dificil mudar alguma coisa assim. Só muda se quem tem o poder quiser mudar, mas quem tem o poder são os que mais agridem o planeta. Um exemplo que sempre uso é o Petróleo. Poderiamos estar usando carros com energia solar, temos tecnologia para isso, mas como ninguem ganha dinheiro pois o sol é de graça, isso não acontece. Existe outros milhares de exemplos como esse. Uma outra coisa é que também fazemos parte do problema, mesmo tentando fazer as coisas corretamente, estamos dentro de uma sociedade, e a sociedade está toda errada. Sobre o asteroide, não sei se o ser humano é capaz realmente de fazer uma intervenção. Isso acontece nos filmes de hollywood. Mas, pensando bem, como o ser humano tem grande capacidade de destruição a gente pode ter uma esperança. Seria irônico. Salvar por ser bom em destruir.
Mudando de assunto Alarcão, quando vai vir aqui em BH fazer a oficina de diário gráfico po : )
abração

Luis Saguar disse...

Booommmm... mito bom, Alarca!
Adorei o post!
Tenho pensado em algumas dessas coisas...
Essas partículas em suspensão estão começando a decantar, né?

abraços

Saguar

Daniel Confortin disse...

Renato... o calendário é originalmente maya... adotado depois pelos astecas (civilização tardia) =)

Coisas de chato... ahhaha...

Mas, a sensação de "peso" e "obscurecimento" não é exclusiva tua... parece que por mais que a gente tente mudar as coisas nada consegue deter a marcha da massa em geral =(

Vezes ouço alguns estadunidenses e europeus falando que as coisas estão mudando, como o Ken Wilber costuma colocar... evoluindo apesar das aparências! Mas acho que eles pensariam diferente se vissem o que a gente vê todos os dias nesse país enorme e complicado...

Já é insustentável e vai ficar muito mais... pessimismo? Talvez... mas acho que é realismo mesmo. E como em toda a tragédia, o objetivo é ir em frente e fazer o papel do herói, mesmo sabendo o destino fatal.

Baita texto.

Abraço!

Anônimo disse...

Alarcao
o q esta acontecendo com vc?
pirou?

q mundo acabar q nada!!!!

a vida é Bela meu caro.

bjss Roberta Guitti.

Alarcão disse...

Amigos, futuros amigos, meus 4 leitores,

Obrigado por comentários tão preciosos. Querida Guitti, ninguém falou aqui que o mundo vai acabar. Quem vai dancar somos nós, e aí, que maravilha, o mundo vai seguir adiante, bonito que só ele...
Sim, concordo, a vida é bela. Difícil é quando não tem água quente pra tomar banho.

Anônimo disse...

Ui...

Tive essa sensação esquisita ao ler, há muitos anos atrás, "Não Verás País Nenhum" do Ignácio de Loyola Brandão. Na ficção ele pincelava um futuro não muito distante : o forte calor, a super população, comida sintética e racionada, a falta de água. Questões bem possiveis e preocupantes.


"O que é um erro de 12 anos numa profecia?".

Pois é....

Alarcão disse...

Olhaí que bacana me disse um amigo por e-mail:

"Fala Renato, beleuza?

Sobre o seu post a respeito do fim do mundo, pare pra pensar se não é exatamente isto o que essas notícias fazem, ocupar o latifúndio da tua mente e alma com preocupações (ocupações prévias) e te fazendo, pouco a pouco, deixar de viver. O fim do mundo existe desde que inventamos a noção de mundo. Pompéia e Herculano foram pro saco, Angkor Vat, na Tailândia, foi também, Ilha da Páscoa, Incas, e nós. Seja pela natureza, pelo imponderável, pelo suicídio ecológico, o fim é certo, mas quando? esqueça, viva e tente viver melhor, sem pensar muito nisso, pq senão as coisas boas passam batido."

Sugestão anotada e vamos para o chopp!