19.6.08
Dr. Frankenstein
Há muitos anos atrás li a versão original do romance gótico "Frankenstein".
O livro, cujo subtítulo era "O Prometeu Moderno", tinha uma capa de couro bem trabalhada pela pátina do tempo e um forte cheiro de biblioteca londrina, o que conferia à ele um certo ar vitoriano. Nele estavam exatamente as palavras que uma jovem de 19 anos chamada Mary Shelley, havia escrito em 1816.
Naquele ano, Mary e seu futuro marido, Percy Shelley, estavam na Suíca em visita ao lorde Byron, um amigo que possuía um confortável chalé à beira do lago Genebra. O grupo passou a noite a prosear sobre diversos temas interessantes, como os avanços recentes da ciência, as novidades tecnológicas e também o sobrenatural (assunto que surge quando os horizontes são incertos e nebulosos). Sim, era uma noite fria e chuvosa, embora esta descrição se pareça um clichê literário.
Impressionava a todos eles as promessas da eletricidade, uma descoberta científica relativamente nova, e também as novidades tecnológicas trazidas por uma revolução industrial que ainda estava na sua infância, mas já evidenciava sinais de que poderia mudar a face do mundo. Graças às fábricas e suas chaminés, Londres já não era a mesma cidade aprazível de outrora.
Após lerem Fantasmagoriana, uma antologia alemã de histórias de fantasmas, os convivas do Chalé lançaram um desafio um ao outro: escrever sua própria história, tão assustadora e envolvente como aquelas que haviam lido juntos. Venceu a jovem Mary Shelley com o seu "Frankenstein or the modern Prometheus".
O subtítulo da obra faz referência ao mito de Prometeu, o titã grego que roubou o fogo dos deuses e o presenteou aos humanos, libertando-os da sua condição primitiva e animalesca. A alusão é óbvia: quando o médico Frankenstein busca conceder ao homem a imortalidade (através de descargas elétricas, a grande novidade da ciência então), ele o liberta da morte, e consequentemente da necessidade ou do temor a Deus.
Dr.Frankenstein brincou de ser Deus, e assim como o titã grego foi severamente punido por sua petulância.
A criatura foi chamada por Shelley de "Adam", o primeiro homem, formado do barro por mãos divinas. Mas, erroneamente, o feioso remendado entrou para a história mesmo como Frankenstein.
No texto original, a criatura ganhou o cérebro de uma criança de 5 anos (talvez por isso tivesse aquele andar desengonçado). Ao chegar nas cidades apanhava de pauladas e era apedrejado devido à sua aparência grotesca. Da mesma maneira como uma criança o faria, ele aprendeu a odiar sentindo na pele a rejeição dos adultos.
A saga do monstro ganhou o mundo em diversas versões na literatura, no teatro, na TV e no cinema, mas a força do original permanece.
A imagem que ilustra este artigo é do meu acervo pessoal e foi feita na técnica de monotipia. Mostra o médico Viktor Frankenstein no ártico à procura do monstro.
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