Steve Heller, então diretor de arte do NY Times, me passou a missão de ilustrar aquela crítica. Foi o meu primeiro trabalho para o jornal e, sabendo da bagagem do Mr. Heller, autor de mais de 100 livros sobre design e ilustração, senti de cara o "peso da responsa".
No mesmo dia tratei de pegar na biblioteca perto de casa o livro de Yann Martel e, antes que o sol raiasse, já havia devorado a extraordinária e mágica história do menino e do tigre náufragos.
Logo nos primeiros minutos com o livro nas mãos (e passado o deslumbramento com a capa), atraiu minha curiosidade um agradecimento do autor canadense ao gaúcho Moacyr Scliar na página de dedicatória. Somente muitos anos depois dei-me conta do motivo (veja no video).
Dez anos atrás, o diretor Steve Heller trabalhava de uma maneira peculiar com os novos ilustradores: marcava a apresentação do portfolio e folheava-o em 10 minutos sem dizer uma única palavra. Se gostasse do que havia visto nos entregava o texto para ilustrar e a entrega da arte final ficava marcada para ser feita pessoalmente dois dias depois. Com mais experiência, vim a aprender que trabalhos para jornais, pelo escasso tempo, não passam pela etapa de aprovação de esboços.
No dia combinado levei o desenho protegido na pastinha e, apreensivo entreguei-o nas mãos do sisudo diretor e lenda-viva do caderno Book Review do Times..
"What a lovely drawing!", disse ele com um sorriso.
Saí de lá feliz e aliviado. E nunca mais esqueci a história do tigre e do menino aprendendo a sobreviver juntos em um bote salva-vidas.
5 comentários:
Interessante este encontro prévio entre vc, Alarca, e o Scliar... o qual vc vem ilustrar diversos texto, anos mais tarde! :)
PS: Eu nunca tinha visto entrevistas com o Moacir. Vi esta e fiquei querendo ler algo da obra dele.
Não conheço a obra e, quando vi o trailer do filme (maravilhado!), senti que já havia visto algo do tipo em algum lugar... Era a sua ilustração!
Verdade Damião. Foi uma grande coincidência eu ter me tornado depois o ilustrador das colunas do Scliar na Folha de São Paulo. Certa vez cheguei a escrever um e-mail para ele onde comentei sobre a dedicatória em "Life of Pi", ele apenas me disse que era por causa de seu livro Max e os Felinos. Seus e-mails raramente tinham mais que duas linhas.
Legal Laz. E aí meu caro, vamos pintar umas aquarelas juntos?
Com um convite desses eu nem tenho o que dizer...
Tá faltando esse momento, não tá, Alarcão!?
Lisonjeadíssimo!
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