Há pouco tempo atrás tomei contato com o texto da poeta Wislawa Szymborska, polonesa e ganhadora do Nobel de literatura em 1996.
Compartilho aqui trechos do seu discurso na solenidade do Nobel. Troquemos a palavra "poetas" por "artistas" e estamos diante de verdades simples como a água que se bebe na concha das mãos (ôpa, parafraseei um Mário Quintana aqui).
"...Ainda não faz tanto tempo, os poetas se esforçavam para nos escandalizar com suas roupas extravagantes e seu comportamento excêntrico. Tudo isso era só para encher os olhos do público. Sempre chegava a hora em que os poetas tinham de fechar a porta atrás de si, despir suas capas, seus penduricalhos e outras parafernálias poéticas e enfrentar - em silêncio, com paciência, à espera de si mesmos - a folha de papel ainda em branco. Pois, no final, é isso o que de fato conta."
" ...A inspiração não é um privilégio exclusivo de poetas e artistas. Existe, existiu, existirá sempre certo grupo de pessoas a quem a inspiração visita. É formada por todos aqueles que conscientemente escolheram a sua vocação, e fazem seu trabalho com amor e imaginação. Podem incluir médicos, professores, jardineiros - eu poderia fazer uma lista de mais de cem profissões. Seu trabalho se torna uma aventura constante, enquanto forem capazes de continuar a descobrir nele novos desafios. Dificuldades e reveses nunca sufocam a sua curiosidade. Um enxame de questões novas emerge de cada problema que eles solucionam."
"Não existem muitas pessoas assim. A maioria dos habitantes da Terra trabalha para ganhar a vida. Trabalham porque têm de trabalhar. Não escolhem este ou aquele trabalho por paixão; as circunstâncias de suas vidas fizeram a escolha por eles. Trabalho sem amor, trabalho maçante, trabalho cujo mérito consiste no fato de que outros nem isso têm - aí está uma das mais penosas desventuras humanas."
"Assim, embora eu possa recusar aos poetas o monopólio da inspiração, ainda os situo num grupo seleto de favoritos da Fortuna."
2 comentários:
Sem comentários! Disse tudo e mais um pouco!!!
Por welton esquizopoeta
Qualquer trabalho feito com amor é poético, pois a vida é poiesis incessante, pois existir é um alarido estrindente de mil maneiras! Nesses dias (numa quarta) estava num onibus lotado e via pessoas cansadas, extenuadas e tão pouco felizes. Parecia que o unico desafio era o de se manterem vivas!Pensei noutras coisas não tão pertinentes para esse comentário, mas quiça valha a pena o meu comentário. Talvez seja isso.
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