31.5.07
Top 10 da Revista How

Durante o mês de junho o meu site estará listado no portal da revista de design "How" como um dos "Top 10" do mês.
Fundada em 1985, a HOW Magazine é uma renomada publicação americana voltada para designers gráficos, e traz sempre importantes informações profissionais como entrevistas, portfolios, dicas de auto-promoção, competições (design e ilustração), negócios, novas tecnologias e processos.
O site deles já está nos meus bookmarks. É excelente!
Quer ter o seu site listado na How? Não tem mistério. Vai lá no link (título do post) e preencha a ficha. Se eles gostarem, melhor pra você.
27.5.07
Blogs aqui e lá
Há um certo tempo o blog Drawn publicou uma resenha sobre o meu trabalho (para ver clique no título). Deu uma ótima repercussão e a visitação foi tão intensa que o meu site foi "derrubado" umas 4 vezes (na época eu havia acabado de colocá-lo no ar e o plano do provedor tinha uma expectativa de visitações bem mais humilde).
Vale destacar que, no ano passado, este blog canadense foi listado pela revista Time como um dos 50 melhores lugares para se visitar na internet. E é mesmo, principalmente se você gosta de ilustração.
Aqui no Brasil, o melhor blog que eu conheço é o Widoníd Another Hiro, editado pelo colega ilustrador Hiro Kawahara. Os assuntos são sempre muito interessantes, e com o toque do texto do Hiro, sempre termino de ler os posts com um sorriso na boca. Vai lá em http://blog.hiro.art.br/
25.5.07
"Toda ponte deve ter princípio e fim"
Estou aqui assistindo à entrevista do Ziraldo no Jô Soares e, enquanto o comercial entra, escrevo rapidamente estas linhas. Considero-o o maior artista gráfico brasileiro vivo. Aliás, são bem poucos os "gênios da raça" na minha lista dos vivos. Muito mais extensa é a lista dos que partiram para o andar de cima... E sem pensar muito coloco o J. Carlos no topo. Concordo com o Jô quando diz que o Ziraldo está mesmo cada dia mais preto (ou segundo o próprio, cada vez mais com cara de indiano) e, aos 75 anos, o artista não dá o menor sinal de cansaço. É quase o dobro da minha idade, e, ao vê-lo, aprendo que preciso parar de reclamar e trabalhar mais, muito mais. Dentre outros assuntos, Ziraldo foi lá pra falar do livro "Aspite", seu mais novo lançamento. O nome vem de "assessor de palpites", que é mais uma habilidade da qual ele se gaba. Ali ele reuniu toda sorte de palpites que deu ao longo da vida, alguns inclusive levados adiante, como a idéia de se colocar vitamina em macarrão. Disse o Ziraldo que a inclusão de macarrão na cesta básica foi também um palpite dele, depois de ver uma mendiga fervendo lascas de papelão numa lata d’água, para, dali, preparar um caldo que ela daria de comer aos filhos. Só no Brasil... Um outro palpite do Ziraldo foi substituir a carne bovina por carne de peixe. "Porque peixe não morre afogado, não atola, não pega aftosa – e, ainda por cima, pode ser alimentado com merda." Um dos palpites que os dois – Jô e Ziraldo – elaboraram ali no meio da entrevista foi: "toda ponte deve ter princípio e fim." Se antes elas eram uma metáfora para o encontro, para a aproximação, agora as pontes representam a indigência moral dos políticos brasileiros. A construção de pontes tornou-se o maior símbolo para a rapina e a bandalheira dos nossos homens públicos. Cambada de filhos-da-puta. Certa vez ilustrei uma crônica genial do Moacyr Scliar sobre uma ponte. Reproduzo-a aqui.
20.5.07
Union Square, setembro de 2001
Vi com meus próprios olhos um evento que dividiu a história contemporânea entre o antes e o depois.
Esta é para mim a definição mais sucinta do que foi o 11 de setembro.
Às 10 pras 9 da manhã, um telefonema do Brasil pediu que eu ligasse a TV imediatamente.
Lembro-me que, ao ver aquele imenso buraco a arder em chamas, os primeiros pensamentos que me vieram à cabeça foram:
"Bombeiro nenhum vai conseguir apagar essa fornalha...só um tolo pode crer que um avião bateu ali por acidente"
Então 13 minutos depois minhas suspeitas se confirmaram: um outro avião abocanhava vorazmente a estrutura da segunda torre.
Estavam abertos os portais do apocalipse.
Acompanhei tudo pela minha pequena TV durante exatos 56 minutos, quando então a tela encheu-se de chuviscos, deixando-me apenas um confuso sinal de áudio. Ainda assim pude compreender sob a camada de ruídos o locutor de TV dizendo:
"The south tower is gone!"
Antenas de TV estavam situadas exatamente no topo do prédio que havia caído. Por isso meu aparelho não podia mais mostrar o que acontecia a apenas alguns quilômetros de onde eu estava.
Telefonei para o meu vizinho Steff, que morava no décimo quinto andar e tinha uma vista privilegiada da ponta sul de Manhattan.
"Steff, minha TV perdeu o sinal, mas eu acho que ouvi falarem que a torre caiu...você consegue ver alguma coisa?"
"Sim, tudo. Venha para cá logo pois a torre que restou não parece que vai se segurar por muito tempo"
Da janela do apartamento do Steff, eu podia acompanhar o desdobramento dos eventos com meus próprios olhos. Ainda assim olhava a todo momento para a enorme TV, cuja imagem provida por cabo me permitia uma visão perfeita do inferno que habitava aquela imensa nuvem de pó que havia engolfado a ponta de Manhattan.
Para crer no que via acontecer da janela eu precisava olhar a todo momento para a TV. Que ironia.
No dia seguinte a cidade era um deserto. Mas pouco a pouco as pessoas começaram a se reunir na praça Union Square, que logo se tornou um verdadeiro santuário de orações, choro, ranger de dentes e catarse coletiva. Artistas trouxeram papéis, canetas e tintas, e quem ali chegava tratava de deixar registrado seu manifesto, oração, ou desenho.
Haviam muitas crianças e também monges budistas, tocadores de gaitas de fole (que som triste e belo tem aquele instrumento), velhos e jovens, e também uma estranha energia no ar, algo que quase se podia pegar com a mão.
Fiz alguns desenhos na Union Square naquele dia. Mas tanto os desenhos quantos as fotos registraram apenas uma pálida idéia do que aconteceu ali.
19.5.07
Ventania no Trigal
Poetas, artistas e o seu trabalho
Há exatamente duas horas atrás tomei contato com o texto da poeta Wislawa Szymborska, polonesa e ganhadora do Nobel de literatura em 1996. Compartilho aqui trechos do seu discurso na solenidade do Nobel.
Troque-se a palavra "poetas" por "artistas" e estamos diante de verdades simples como a água que se bebe na concha das mãos. (ôpa, parafraseei um Mário Quintana aqui).
"...Ainda não faz tanto tempo, os poetas se esforçavam para nos escandalizar com suas roupas extravagantes e seu comportamento excêntrico. Tudo isso era só para encher os olhos do público. Sempre chegava a hora em que os poetas tinham de fechar a porta atrás de si, despir suas capas, seus penduricalhos e outras parafernálias poéticas e enfrentar - em silêncio, com paciência, à espera de si mesmos - a folha de papel ainda em branco. Pois, no final, é isso o que de fato conta."
" ...A inspiração não é um privilégio exclusivo de poetas e artistas. Existe, existiu, existirá sempre certo grupo de pessoas a quem a inspiração visita. É formada por todos aqueles que conscientemente escolheram a sua vocação, e fazem seu trabalho com amor e imaginação. Podem incluir médicos, professores, jardineiros - eu poderia fazer uma lista de mais de cem profissões. Seu trabalho se torna uma aventura constante, enquanto forem capazes de continuar a descobrir nele novos desafios. Dificuldades e reveses nunca sufocam a sua curiosidade. Um enxame de questões novas emerge de cada problema que eles solucionam.
Não existem muitas pessoas assim. A maioria dos habitantes da Terra trabalha para ganhar a vida. Trabalham porque têm de trabalhar. Não escolhem este ou aquele trabalho por paixão; as circunstâncias de suas vidas fizeram a escolha por eles. Trabalho sem amor, trabalho maçante, trabalho cujo mérito consiste no fato de que outros nem isso têm - aí está uma das mais penosas desventuras humanas. "
"Assim, embora eu possa recusar aos poetas o monopólio da inspiração, ainda os situo num grupo seleto de favoritos da Fortuna."
17.5.07
Cristo Maravilha
Aqui vai um desenho que fiz na madrugada de ontem (do mesmo ângulo que vemos do ateliê Marimbondo). Fim de tarde pesadamente nublado e o Redentor abençoando esta cidade que teima em ser maravilhosa...
Foi em 1859 que primeiro surgiu a idéia de construir uma estátua no Corcovado. Diante daquele pico o padre Pedro Maria Boss imaginou que ali se poderia erigir uma enorme estátua de Cristo e então pediu ajuda à Princesa Isabel para erguer o monumento. A princesa, que não tinha de onde tirar recursos para tal extravagância, nada pôde fazer.
A idéia só voltou à tona em 1921, para marcar a comemoração do Centenário da Independência do Brasil, que aconteceria no ano seguinte. A intenção agora era fazer um monumento em bronze, para ser colocado no alto do Pão de Açúcar.
Da primeira reunião oficial destinada a discutir o projeto e o local para a edificação do monumento, surgiu a primeira dúvida: onde assentar a estátua? No Corcovado, no Pão de Açúcar ou no Morro de Santo Antônio? Venceu a opção pelo maior dos pedestais. E assim a pedra fundamental da construção do monumento foi lançada no dia 4 de abril de 1922.
Diferente do que muitos pensavam (inclusive eu), o Cristo Redentor não foi um presente dos Franceses, mas o resultado do trabalho do engenheiro Heitor da Silva Costa (na foto com a maquete da estátua).
Foi na Europa, que Heitor escolheu o arquiteto Paul Landowsky para desenvolver o projeto, executar a maquete definitiva do Cristo e estudar problemas de construção e de base. Em 1928, uma comissão de técnicos examinou estudos, projetos e orçamentos. Vários materiais foram cogitados para o revestimento da estátua, mas por fim foi escolhida a pedra-sabão, que embora seja um material fraco, é extremamente resistente ao tempo e não deforma nem racha com as variações de temperatura. O próprio Morro do Corcovado forneceu toda a pedra sabão necessária para a obra.
Em 12 de outubro de 2006 o Cristo completou 75 anos, transcendendo o simbolismo religioso para se tornar um ícone da cidade. Católicos ou não, todos se rendem à grandiosidade da enorme estátua art deco que reverencia o Rio de Janeiro e é por ele reverenciado.
No mesmo ano a fundação New 7 Wonders estabeleceu um projeto para escolher as novas sete maravilhas do mundo contemporâneo. Além do nosso Cristo fazem parte da lista os "Moai" (as grandes estátuas da Ilha de Páscoa), a grande muralha da China e Machu Picchu.
Em 1º de Janeiro o concurso para eleger as novas sete maravilhas foi lançado, com vinte e uma "maravilhas" pré-selecionadas. O concurso acaba no dia 7 de setembro de 2007 e metade dos fundos arrecadados no projeto serão destinados à restauração de patrimônios em risco ao redor do mundo.
Clicando no link podemos votar no Cristo, além de outras 6 maravilhas. Mas o Redentor é o único brazuca da lista!
Eu votei no Cristo, em Machu Picchu, nos Moais, em Petra, no Taj Mahal, na Muralha da China, e na Acrópole da Grécia. Todos à exceção do Cristo foram feitos há trocentos anos atrás, fato que, para mim, os torna ainda mais maravilhosos.
Alguns detalhes sobre o Cristo:
Localização - Cume do Morro do Corcovado, 710 m acima do nível do mar
Altura da estátua - 30m
Altura do pedestal - 8m
Altura da cabeça - 3,75m
Comprimento da mão - 3,20m
Distância entre os extremos dos dedos - 28m
Peso da estátua - 1,145 toneladas
Peso da cabeça - 30 toneladas
Peso de cada mão - 8 toneladas
Peso de cada braço - 57 toneladas
Direitos de exploração de imagem: Mitra Arquiepiscopal do Rio de Janeiro (embora haja disputa com os herdeiros dos envolvidos na concepção da obra).
Melhor citação, referência ou apropriação indébita da sua imagem: Joãzinho Trinta e o carnaval "Ratos e Urubus Larguem minha Fantasia", que trouxe o Cristo empacotado (refêrencia ao artista Christo) com uma faixa dizendo "Mesmo Proibido Olhai Por Nós".
16.5.07
Falando Merda
Este mundo anda muito estranho. É um mata-mata que não acaba. Homens-bombas, tragédias ambientais, ideologias de conveniência, produtos de obsolescência programada, lixo industrial de alta toxicidade, "e-invenções" para nos deixar ainda mais atordoados de informação, e uma infinidade de novidades efêmeras que seguem despejadas às toneladas sobre todos os nossos órgãos sensoriais. É pau, é pedra, é o fim do caminho.
Mas e as artes?
Ufff... voltaram os iconoclastas.
Temos sempre que ouvir um sujeito falar em fim da pintura, fim do objeto artístico, fim da figuração, volta da figuração, como se tudo isso fosse "A" novidade. As artes plásticas só atestam sua própria condição de "a mais perdida e desnorteada de todas as artes". Então é lata de merda pra cá, cubo de esperma pra lá, e tem até artista que dá um tiro no próprio braço e um outro que faz performance suicidando-se de um prédio sobre uma lona estendida na calçada.
Enquanto isso a rapaziada do grafitti, da "Lowbrow art" e do pop surrealismo vão se embrenhando pelas frestas, comendo esse angu de caroço pelas beiradas.
Vá ver o teatro, vá ver a música, vá ver o cinema, a culinária, a moda, qualquer uma das outras artes. Elas inovam, reinventam-se, não picareteiam a si próprias. Parece que o barbante que guiava o caminho para fora do labirinto em que as artes plásticas se meteram foi usado numa instalação que ninguém vai ver (nem o minotauro!).
Nesta vida tudo muda e se transforma. As artes morrem apenas para renascerem diferentes no dia seguinte, no mês seguinte, na década seguinte. Ou não.
(e, que bom que inventaram esse "ou não", rota de fuga que redime a gente de qualquer sandice)
Viram a foto? Aquela belezinha recheada de cocô custou 22.300 libras ao Tate Museum de Londres. Pelo câmbio de hoje cada grama custou o equivalente a 3.054 reais.
Vai, clica lá no título e continue esse assunto que é tão divertido.
A morte da ilustração
Outro dia li uma entrevista de um ilustrador brasileiro em uma revista de design onde ele disse que a "ilustração morreu".
Não me recordo a última vez em que li uma besteira de tamanha magnitude na escala CRAP (para saber o que é CRAP, clique no título).
Por consideração e para evitar pré-julgamentos, decidi escrever um e-mail para ele e perguntar o que era aquilo. O colega até tentou se explicar, mas sua justificativa só fez jus ao velho ditado do brilhante advogado Evandro Lins e Silva, aquele do processo de impeachment contra o Collor:
"Uma defesa mal embasada é errática como o vôo do morcego"
Aquela foi mesmo uma resposta zig-zagueante e confusa, que me fez lembrar também de uma outra frase, se não me engano de Oscar Wilde, que dizia:
"...e desculpe-me por esta carta tão longa, é que não encontrei tempo de escrever uma menor..."
Existe um equívoco, a meu ver, em declarar a morte de uma atividade que está justamente em franca retomada, após um período nebuloso acontecido ali por volta do ano 2000. Mas pior ainda, lamentável e imperdoável, é escrever o obituário da ilustração em uma revista dirigida a designers gráficos, justamente os profissionais que contratam a nós, os ilustradores.
O fato de muitos artistas - eu incluído - estarem ocupadísimos com a demanda por ilustrações é um sintoma de que a atividade continua uma sugadora voraz das nossas horas de vigília. E se alguém morreu nessa história, deve ter sido o Norman Rockwell, o Arthur Rackham, o Al Hirschfeld, e outros ilustradores que alguns por aí devem julgar como exemplares vetustos de uma raça em extinção.
Artistas de sorte foram aqueles. Morreram com seus lápis na mão ( e se Deus quiser, um dia eu também subirei assim ).
Na defesa da tese de que a "ilustração morreu", usou-se o argumento de " a ilustração acabou da forma como era há 15, 20 anos atrás, estando hoje integrada à uma visão global de projeto". E diante da saraivada de críticas, o autor da frase disse que não foi bem interpretado.
Então tá.
Os automóveis acabaram. Não são os mesmos de 15, 20 anos atrás. Precisamos inventar um outro nome para essas coisas que nos levam pra lá e pra cá apoiados sobre pneus.
O mesmo vale para a música. Hoje ela pode ser feita sem instrumentos, uma verdadeira colagem de frases musicais pinçadas de diversas fontes. Dá pra carregar centenas delas no chaveiro. Paramos até de comprar CDs. Mas, que incrível, essa coisa imaterial, com ritmo, harmonia e melodia e que alegra nossa alma e os ouvidos, ainda se chama música!
Conheci um artista (?) que me disse que a pintura havia morrido, que não havia mais nada a se dizer com tintas e pincéis. Ele, que só sabia o segredo da mistura de terebentina com óleo de linhaça, já não sabia mais O QUE pintar, e por isso bradava:
"...todo mundo já fez figuras humanas, retratos, paisagens, o grotesco, o sublime, abstrações, geometrias, esgotamos as possibilidades do suporte...Acabou-se, a pintura morreu!"
Morreu para ele!
(a ilustração deste post é para um livro ainda não-publicado. Representa o Kadish, uma oração judaica associada aos rituais de luto)
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